A insuficiência cardíaca mata mais que câncer

A insuficiência cardíaca mata mais que câncer

A jornada do paciente com insuficiência cardíaca é longa e há fatores que podem modificá-la, como o tratamento adequado

Falta de ar, cansaço para escovar os dentes e inchaço nas pernas são alguns sintomas que limitam o dia a dia de inúmeros pacientes com insuficiência cardíaca (IC) avançada. Estima-se que haja em torno de 26 milhões de pessoas no mundo com a doença, e, no Brasil, aproximadamente 2 milhões. A IC é uma das principais causas de mortalidade em todo mundo e uma das principais causas de hospitalizações entre adultos com mais de 60 anos. 

Com o envelhecimento da população, o aumento da prevalência de fatores de risco cardiovasculares e o avanço no tratamento de condições cardíacas agudas, espera-se um aumento no número de pacientes com a doença nas próximas décadas.

A insuficiência cardíaca é uma condição clínica complexa caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue de forma adequada para atender às necessidades do corpo. São inúmeras as causas, incluindo infarto agudo do miocárdio, doença arterial coronariana (entupimento das artérias do coração), hipertensão arterial não controlada, problemas na valva do coração (febre reumática, por exemplo), doença de Chagas, cardiopatia congênita, alguns quimioterápicos cardiotóxicos, uso abusivo do álcool, entre outras.

O paciente com IC pode evoluir com sintomas nos mais variados graus, como: falta de ar, fadiga, edema (inchaço) nas pernas e tornozelos, ritmo cardíaco descompassado, tontura e desmaios. Além desses sintomas, que pioram muito a qualidade de vida do indivíduo, a evolução da doença pode culminar em problemas no fígado e nos rins, além de arritmias graves potencialmente fatais.

O tratamento da IC envolve uma combinação de inúmeros fatores e depende da causa subjacente. De maneira geral, os principais objetivos do tratamento consistem em aliviar os sintomas, melhorar a função cardíaca, retardar a progressão da doença (quando não for possível a reversão) e reduzir o risco de hospitalização e morte.

Isso é factível quando associamos medicamentos com mudanças do estilo de vida, como o tratamento de condições associadas (hipertensão ou diabetes), a limitação na quantidade de líquidos ingeridos e a prática de exercícios físicos (reabilitação cardíaca). Pode ser ainda que no percurso da doença o paciente necessite de algum tipo de dispositivo, como os ressincronizadores cardíacos.

Infelizmente, uma parcela dos pacientes com IC, mesmo após terapia padrão otimizada, continuam piorando a ponto de não conseguirem se deitar numa cama sem faltar o ar ou se cansam até mesmo no repouso para emitir uma simples frase. Nesses casos avançados, pode ser que a única solução seja o transplante cardíaco (TxC) ou o implante de um coração artificial.

Uma vez que o cardiologista especializado em IC indique o transplante, o paciente será submetido a uma avaliação multimodal que inclui análise clínica, laboratorial, imunológica, psicológica e social. Caso ele esteja apto a receber um coração novo, será incluído em uma fila única de transplante cardíaco, cujo tempo de espera é variável, desde dias a anos (média de 18 meses) e depende de alguns fatores, como tipo sanguíneo, tempo de inclusão em fila e gravidade.

Algumas condições clínicas levam pacientes mais graves a serem priorizados, já que sua mortalidade aumenta a cada dia de espera. Exemplos de priorização são pacientes em membrana de oxigenação extracorpórea (ECMO) ou algum outro dispositivo de assistência circulatória, em uso de medicamentos endovenosos que auxiliam o coração a bombear e em ventilação mecânica.

Após um transplante bem sucedido, o paciente poderá ter uma vida próxima do normal e necessitará de medicações imunossupressoras específicas, cuidado médico continuado e exames de rotina.

A jornada do paciente com diagnóstico de IC é longa e há fatores cruciais que podem modificar essa trajetória, incluindo o tratamento adequado, o reconhecimento precoce para indicar uma terapia avançada e a adequação de políticas públicas. Para isso, é necessária uma abordagem multifacetada incluindo a educação do paciente, cuidados médicos de alta qualidade e intervenções para reduzir os fatores de risco.

* O artigo foi feito em colaboração com Stephanie Rizk, especialista em insuficiência cardíaca, transplante cardíaco e coração artificial da Rede D’Or, Hospital Sírio-Libanês e médica da Cardio-Oncologia do InCor .


Fonte: O GLOBO

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