Qual é a melhor maneira de levar dinheiro nas viagens? Dólar, euro ou cartão pré-pago?

Qual é a melhor maneira de levar dinheiro nas viagens? Dólar, euro ou cartão pré-pago?

Contas digitais no exterior, como Wise e Nomad, oferecem câmbio mais atrativo e IOF menor. Bancos tradicionais oferecem serviço similar. Compare as opções

O dólar já caiu quase 10% este ano frente ao real e cada vez mais brasileiros estão pensando em passar as férias no exterior. Mas, com os preços das passagens aéreas nas alturas, cada detalhe faz a diferença na hora de planejar a viagem para economizar. E, na hora de fazer o câmbio, há várias opções disponíveis, com novos serviços surgindo para facilitar a vida do turista.
  • Contas digitais no exterior são uma opção para ter um cartão de débito em divisa estrangeira pagando IOF menor. As opções mais conhecidas são o Wise e o Nomad.
  • Alguns cartões podem ser usados em diferentes moedas.
  • Bancos tradicionais oferecem serviço similar.
  • Cartões pré-pagos são outra modalidade de câmbio disponível no mercado.
  • Há cartões que oferecem até investimento no exterior, como forma de poupar dinheiro e ganhar um retorno até a data da viagem.
Entenda como funcionam

Nos últimos meses, começaram a se popularizar os cartões de contas digitais no exterior, que oferecem taxas de câmbio mais atrativas e cobram Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) menor em comparação com os cartões internacionais.

Em geral, só é preciso baixar um aplicativo, efetuar o cadastro e fazer a primeira transferência, cujo valor varia de acordo com a empresa escolhida. Com o Pix, o dinheiro pode ser transformado em dólar, euro ou outra moeda estrangeira de forma instantânea, 24 horas por dia e sete dias por semana.

Enquanto o IOF em compras feitas em outros países com cartão de crédito é de 5,38%, o imposto no câmbio desse tipo de conta digital é de 1,1% — como o que incide na compra de papel moeda.

É como se o turista fizesse uma remessa para ele próprio no exterior. Assim, ao pagar um almoço em um restaurante de Nova York no débito, nenhuma taxa adicional seria descontada. No caso de saques, no entanto, costumam incidir cobranças.

Atenção ao escolher

É preciso ler com atenção o contrato antes de requisitar o serviço, já que podem incidir tarifas adicionais às quais o consumidor não está acostumado no contato com bancos no Brasil, como taxas de envio do cartão para domicílio.

A Wise, por exemplo, oferece uma conta para maiores de 18 anos em mais de 50 moedas. No caso da divisa americana, o custo de conversão é feito com o câmbio do dólar comercial, taxa de 1% e IOF de 1,1%. Depois disso, o usuário pode gastar como morador local em mais de 170 países onde a bandeira Visa é aceita.

Não há cobrança para entrega do plástico, mas é exigido depósito inicial de R$ 100. Como o cartão também funciona no Brasil, Helene Romanzini, gerente de Marketing da Wise para América Latina, África e Oriente Médio, explica que o cliente pode transferir reais para sua conta digital e converter somente quando o câmbio estiver atrativo. E acrescenta:

— Ainda é possível usar a conversão automática, determinando o câmbio quando a moeda atingir uma cotação específica. Isso dispensa a necessidade de ficar monitorando.

Mais segurança

Em março, o cientista de dados Guilherme Soriano, de 35 anos, viajou para a Itália com a esposa e teve a carteira furtada logo quando chegou. O susto não foi maior porque os 800 euros que havia levado estavam na conta digital.

Além de não perder a quantia, pôde usar o cartão de débito pela carteira virtual do celular sem pagar IOF maior, o qual seria cobrado caso tivesse que recorrer ao uso de um cartão de crédito pela wallet do aparelho.

— Fiquei nervoso na hora, mas consegui resolver tudo em dez minutos— lembra.

Acostumada a viajar todo ano para fora, a arquiteta aposentada Sonia Martins, de 61 anos, fez o cartão por indicação de uma amiga. Depois de usá-lo em Portugal e Espanha, aprovou a experiência.

— Todo mês, eu pegava um pouco do salário e colocava em euros, escolhendo a melhor cotação para converter. Paguei no máximo R$ 5,30. Agora vou usar o cartão para juntar dinheiro para a próxima viagem — conta.

Em outra vertente, a conta digital em dólar da Nomad oferece proteção de até US$ 250 mil por pessoa garantida pela FDIC, agência independente americana que assegura depósitos. O IOF cobrado também é de 1,1%. O câmbio é feito pelo dólar comercial e há uma taxa em torno de 1% pelo serviço. A entrega do cartão com bandeira Mastercard em endereços brasileiros custa US$ 20 (cerca de R$ 96).

Cliente da empresa há um ano, o empresário Luiz Kechichian, de 63 anos, cita como vantagem a transparência nas transações. Por trabalhar com a venda de imóveis no exterior para brasileiros que emigram, ele costuma viajar para Portugal e EUA a cada dois meses, fazendo muitas movimentações em euro e dólar:

— Mandar dinheiro para a conta é muito fácil e, quando faço pagamentos, já mostra no meu celular o que foi debitado. O cartão também dá acesso a salas VIP em aeroportos.

Menor IOF pra investir

Através da Nomad, é possível pagar um IOF ainda menor, de 0,38%, fazendo transferências para a conta de investimento. Caio Fasanella, diretor executivo e chefe da área de Investimentos da Nomad, vê o momento de juros altos nos EUA como uma oportunidade de fazer as economias renderem até o embarque:

— O cliente pode deixar os dólares investidos e ter um retorno em torno de 5% ao ano. Antes de viajar, basta pedir o resgate, o que leva cerca de dois dias úteis — explica.

Com mais de 300 mil usuários, a corretora de valores americana Avenue também disponibiliza essa alternativa. Além do IOF mais baixo, cobra taxa que varia de 1,75% a 2,5% sobre o dólar comercial. O câmbio mínimo é de R$ 200.

Segundo Alexandre Artmann, COO da Avenue, o diferencial é a possibilidade do titular da conta solicitar até quatro cartões adicionais para familiares, inclusive adolescentes entre 12 e 17 anos — novidade implementada pela grande demanda de famílias que mandam seus filhos para intercâmbios no exterior.

Os destinos onde os cartões mais são usados por brasileiros, segundo as empresas, são Estados Unidos e Europa.

Na Argentina, leve reais

Para quem vai para Argentina, o cenário é diferente. A hiperinflação e a desvalorização do peso levaram à criação do dólar MEP (taxa mais vantajosa para turistas) para estimular o uso de cartões no país. O consumidor paga o dólar oficial, mas a diferença em relação à cotação de mercado é reembolsada alguns dias depois.

Apesar de a transação com cartão ser mais segura, a especialista em finanças pessoais da Escola de Negócios PUC-Rio Graziela Fortunato vê como mais vantajoso usar papel moeda na Argentina. Ela recomenda pesquisar antes de trocar reais por pesos. Além da diferença entre casas de câmbio, dia e local afetam a cotação

Bancos brasileiros investem em contas internacionais

Paulo Victor Pereira, gestor de varejo da Europa Câmbio, diz que a queda na demanda por cartão pré-pago, vendido como alternativa ao papel moeda nas casas de câmbio, vem acontecendo desde que a alíquota do IOF desse produto passou de 0,38% para 6,38%, dez anos atrás. Para ele, no entanto, o decreto 11.153, publicado no ano passado, que estabelece redução regressiva do tributo, pode recuperar a competitividade dessa alternativa, assim como dos cartões de crédito.

— O uso do pré-pago é equivalente a 15% dos pagamentos em papel moeda. Se a redução da alíquota de IOF dos cartões pré-pagos e de crédito chegar a zero em 2028, como previsto, pode haver retomada dessa opção — diz Pereira.

Enquanto isso não acontece, para evitar perder espaço e conseguir surfar no maior interesse por cartões de débito estrangeiros, bancos brasileiros começam a oferecer a seus clientes a possibilidade de abrir contas no exterior.

O C6 — que cobra taxa de 5,25% sobre o valor da compra em dólar, além de 5,38% de IOF para transações com cartão de crédito internacional — passou a disponibilizar a Conta Global, com taxa de abertura de US$ 10. Ao enviar dinheiro para fora, o cliente paga câmbio comercial, spread de até 2,5% e IOF de 1,1% por transferência.

Correntistas do Banco do Brasil podem abrir uma Conta Easy no BB Américas, isenta de tarifa de manutenção e com exigência de depósito inicial de US$ 100, caso tenham objetivo de pagar IOF menor em transações fora do país, seja em compras pela internet ou durante viagens ao exterior. O envio de cartão de débito para endereço brasileiro tem custo de US$ 15.

O Bradesco, por sua vez, lançou, em um programa-piloto com clientes selecionados, a My Account, conta internacional sem tarifas, com emissão e entrega de cartão gratuitas. A solicitação de abertura deve estar disponível para todos os segmentos de pessoas físicas a partir de julho. A expectativa é que o plástico seja aceito em mais de 200 países.

O que avaliar na hora de escolher o cartão

Leia o contrato

A abertura de contas no exterior pode implicar na cobrança de taxas em euro ou dólar, o que pode onerar a transação. Analise os custos embutidos, como taxa de manutenção, tarifa para entrega do cartão no Brasil, spread (tarifa sobre o dólar) e se há taxa sobre moeda para conversão e saque na volta ao Brasil.

Programe-se

Se a viagem estiver distante, faça a troca da moeda aos poucos, para aproveitar o melhor preço médio. Há contas que permitem programar o câmbio em uma cotação específica. Pode ser útil para obter os melhores valores.

Pense na melhor estratégia

Se tiver uma quantia relevante disponível meses antes da viagem, pense em usar a conta de investimento para fazer a transferência e pagar IOF menor, de 0,38%. Aplicar os valores também pode ser vantajoso pois haverá algum rendimento. Verifique antes, porém, o tempo de liquidação do investimento e se pode sacar a qualquer momento.

Compare vantagens

Para atrair clientes, cada empresa oferece uma cartela de vantagens. Entre elas estão a possibilidade de filhos menores terem cartão adicional, entrada em salas VIP de aeroportos e até seguro do depósito.


Fonte: O GLOBO

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