Menina morta em ritual para curar gripe: Justiça de Minas decide que acusados não vão a júri popular

Menina morta em ritual para curar gripe: Justiça de Minas decide que acusados não vão a júri popular

Magistrado absolveu tia da criança e determinou que outros cinco respondam por homicídio culposo, quando não há intenção de matar

A Justiça de Minas Gerais decidiu que os acusados pela morte da menina Maria Fernanda, que teve corpo quase totalmente queimado durante um ritual para curar gripe, não vão a júri popular. A decisão foi do juiz Thales Cazonato Corrêa, titular da 2ª Vara Criminal da Comarca de Frutal, onde ocorreu o caso, em março do ano passado.

O magistrado absolveu sumariamente a tia da criança, Edivaine Maria de Camargos, e determinou que a mãe Edilaine Lúcia de Camargos; os avós Alcimiro Lúcio de Camargos e Luzenilda Santana de Camargos; o guia espiritual Bruno Santos Fernandes; e seu auxiliar Kaio Victor Gonçalves de Oliveira passem a respondem por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, mas se atinge o resultado por imprudência, imperícia ou negligência. O grupo também poderá responder por fraude processual.

O caso corre em segredo de justiça. O advogado dos parentes de Maria Fernanda, José Rodrigo de Almeida, celebrou a decisão da Justiça, alvo de recurso do Ministério Público de Minas Gerais.

"Nessa primeira etapa processual, acreditamos que a bem fundamentada sentença reconheceu a absoluta ausência de dolo nas condutas dos envolvidos, acolhendo os argumentos das defesas. O juiz foi, no nosso sentir, totalmente imparcial, analisou pormenorizadamente os fatos, o contexto, as provas, exteriorizando irrepreensivelmente sua convicção lançada no procedimento", disse o defensor.

Morte durante ritual; defesa fala em acidente

Uma gripe persistente foi o que levou uma família de Frutal, Minas Gerais, a buscar o auxílio de um líder espiritual para curar Maria Fernanda Camargo, de 5 anos, que morreu após ter seu corpo quase totalmente queimado em um ritual, conforme o advogado disse ao GLOBO em abril de 2022.

O episódio, que aconteceu no dia 24 de março, passou a ser investigado pela Polícia Civil mineira e levou à prisão temporária da mãe, tia e avós da criança, um mês depois. O líder espiritual responsável pelo ritual também foi preso na operação, batizada de 'Incorporação da Verdade'.

De acordo com Almeida, a morte de Maria Fernanda foi um acidente, e a família não tinha intenção de machucar a menina. Segundo ele, a família estaria sendo vítima de preconceito religioso.

— Ritual de invocação de espírito maligno, sacrifício humano, nada disso aconteceu. O que aconteceu foi o seguinte: em 2021, no ápice da pandemia, o tio e a tia da criança estavam intubados no hospital com Covid. Alguém na cidade falou que esse homem podia fazer um trabalho espiritual de cura. Eles realmente melhoraram depois e atribuíram a melhora ao trabalho.

Assim, após Maria Fernanda ter desenvolvido uma gripe persistente, com episódios de febre, tosse e dor de garganta constantes, a família decidiu recorrer ao líder espiritual para curar a jovem. O ritual aconteceu na casa dos avós, simpatizantes da umbanda.

Segundo a versão do advogado da família, o médium teria feito a benção combinada. Depois, a tia e a mãe de Maria Fernanda deixaram o aposento em que o ritual se realizava e, quando retornaram, o líder espiritual havia incorporado uma nova entidade. Ele, então, pediu uma bacia e um álcool com ervas usado em cerimônias de cura.


Fonte: O GLOBO

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