Malha de ciclovias nas capitais cresce só 4% em um ano, aponta levantamento

Malha de ciclovias nas capitais cresce só 4% em um ano, aponta levantamento

São Paulo tem maior rede cicloviária, mas é 19° da lista que avalia tamanho dos espaços reservados às bikes em relação ao tamanho da população, segundo dados obtidos via LAI

As 26 capitais brasileiras e Brasília somam 4.365 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, extensão que aumentou só 4% entre junho de 2022 e o mesmo mês de 2023. O dado é de levantamento feito pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) com base em números captados via Lei de Acesso à Informação (LAI) e obtido com exclusividade pelo GLOBO.
 
A tímida evolução dos espaços destinados às bikes nas grandes cidades indica baixo empenho das prefeituras em seguir o que está exposto no Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que determina a priorização ao transporte não motorizado em municípios com mais de 20 mil habitantes. Juntas, as capitais abrigam 46,5 milhões de pessoas, quase um quarto da população total do país.

— O crescimento foi muito tímido, bem aquém do que a gente precisa, da demanda atual. Não existe um número mágico que dite qual o tamanho ideal para a malha cicloviária do país. O ideal é aquilo que seja suficiente para atender à demanda, para garantir segurança e conforto aos ciclistas e que estimule as pessoas a usarem a bicicleta — diz o pesquisador em políticas de mobilidade urbana Daniel Guth, diretor-executivo da Aliança Bike.

De acordo com o levantamento, São Paulo é a capital com mais espaços reservados para ciclistas, com 689,1 quilômetros. Mas a cidade cai para a 19ª posição do ranking se analisada a extensão dessa rede para o tamanho da população. Por esse cálculo, Florianópolis lidera a lista com 22,9 quilômetros de malha cicloviária para cada 100 mil habitantes.

Em maio, o GLOBO percorreu 50 quilômetros de bicicleta na capital paulista para mostrar problemas de infraestrutura que afugentam ciclistas da maior metrópole do país: buracos, trechos sem conexão entre si, falta de manutenção das ciclovias existentes e poucas grades de segurança. Daniel Guth diz esperar que o debate sobre a importância dos espaços destinados às bicicletas ganhe força no ano que vem, quando haverá eleições municipais:

— Paralela à discussão sobre a quantidade das ciclovias, é igualmente importante discutirmos as condições que elas estão, e se foram implantadas no local de desejo dos ciclistas. As capitais são um bom espelho do que acontece no Brasil e são as cidades com maior capacidade de investimento. Nas últimas eleições, em 2020 e 2016, houve partidarização desse debate, o que contaminou o tema. Mas acredito que hoje estamos mais maduros para que isso entre nos programas de governo.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que pretende entregar 300 quilômetros de ciclovias até o ano que vem. Na prática, isso equivale a dizer que serão inaugurados em 12 meses o mesmo que foi feito nos últimos sete anos — em 2015, a cidade tinha 380,3 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas.

Vida nova para bikes abandonadas

Para incentivar mais pessoas a pedalarem pelas cidades, um projeto social busca bicicletas abandonadas em prédios e condomínios para dar uma nova vida para as bikes que estavam esquecidas pegando poeira. O Instituto Aromeiazero faz a coleta e distribuição dessas bicicletas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Macaé.

As bicicletas são encaminhadas para uma oficina, onde tudo é inspecionado antes de ganhar um novo destino. As infantis são distribuídas para organizações não-governamentais e escolas, enquanto as maiores são usadas em cursos profissionalizantes em que os alunos, além de ganharem as bikes, aprendem a consertá-las e também recebem aulas sobre outras atividades que podem ser desenvolvidas sob duas rodas, como entregas e o cicloturismo.

— Nossa meta é colocar as bikes de volta na rua, ensinar as pessoas a pedalar, a usá-las para trabalhar. Conseguimos doações por meio do boca a boca, é um trabalho de formiguinha. Nossos cursos buscam dar uma força para pessoas em situação de vulnerabilidade social e que também atendam a um critério de diversidade, como mulheres, negros e indígenas — explica Murilo Casagrande, diretor de Desenvolvimento Institucional do Aromeiazero.

O instituto distribuiu mais de 500 bicicletas no ano passado e tem para 2023 a meta de dobrar essa marca. Paralelamente ao trabalho de recuperação de bikes abandonadas, o grupo também atua junto a subprefeituras para pressionar pela instalação de mais ciclovias em bairros periféricos.

— Ciclovias salvam vidas e geram um trânsito mais seguro, uma cidade menos poluída. É muito necessário que essas estruturas cheguem nas periferias, que sejam mais acessíveis e ajudem na construção de uma economia verde que pode gerar um impacto muito positivo — diz Casagrande.


Fonte: O GLOBO

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