IPCA registra a primeira deflação em nove meses, com queda de alimentos e combustíveis

IPCA registra a primeira deflação em nove meses, com queda de alimentos e combustíveis

Índice recuou 0,08% em junho, após alta de 0,23% em maio. Essa é a menor variação para o mês de junho desde 2017

Um alívio nos preços dos alimentos e combustíveis ajudou o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) a registrar a primeira deflação em nove meses. O índice recuou 0,08% em junho, após alta de 0,23% em maio. Essa é a menor variação para o mês de junho desde 2017, quando o índice ficou em -0,23%. Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta terça-feira.
  • No ano, o IPCA acumula alta de 2,87%
  • Nos últimos 12 meses, o índice registra alta de 3,16%. É a menor variação desde setembro de 2020
  • Em junho de 2022, a variação mensal havia sido de 0,67%
Apesar de alimentação e combustíveis terem puxado para baixo o indicador de inflação, a queda observada nos preços dos automóveis novos e usados foi determinante para o IPCA registrar deflação. Segundo cálculos do IBGE, o IPCA teria uma alta de de 0,03% em junho caso fossem retirados da cesta de consumo os automóveis novo e usado, que caíram por conta do programa de descontos do governo para compra de veículos.

O que dizem os analistas?

Economistas reconhecem que o ritmo de alta dos preços no país segue perdendo força, mas o movimento ainda enseja cautela por parte do Banco Central na calibragem dos juros. O Comitê de Política Monetária vai se reunir em agosto para decidir a taxa de juros, um dos principais instrumentos de controle da inflação, que hoje está em 13,75% ao ano.

Num indicativo de que a alta de preços está menos espalhada, o índice de difusão (que mede a quantidade de itens que subiram de preço na pesquisa) ficou em 50% em junho, o menor percentual registrado desde maio de 2020. O IPCA-15, considerado uma prévia da inflação, já tinha mostrado desaceleração ao ficar perto de zero em junho. O índice registrou alta em 0,04%, bem abaixo da taxa de maio (0,51%).

Por outro lado, itens da inflação de serviços - que inclui alimentação fora do domicílio, aluguel residencial, condomínio e outros - subiram mais que o esperado. O IPCA de serviços saiu de 0,06% em maio para uma alta de 0,62% no mês passado. O dado inclui itens que são mais ligados ao mercado de trabalho e aos salários, cuja dinâmica é menos volátil e a trajetória de alta custa a se dissipar.

— Quando a taxa de desemprego está baixa, como agora, o custo de contratação de trabalhadores sobe e acaba sendo repassado para o preço dos serviços, que representam 30% do IPCA — explica Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

Na nossa visão, a resiliência da inflação de serviços, a pressão nos núcleos e a expectativa de inflação ainda acima da meta são desafios à convergência da inflação à meta.

Na visão de Vitor Martello, economista-chefe da Parcitas Investimentos, o resultado do IPCA não impede que o Copom inicie o ciclo de cortes em agosto. Mas é preciso cautela:

— A piora qualitativa prescreve cautela, de tal forma que o Copom deve seguir cauteloso cortando 0,25 pontos percentuais em agosto. E o cenário mais provável hoje é que a Selic não caia muito abaixo dos 10% — diz.

Daniel Cunha, estrategista da BGC Liquidez, concorda que o Copom deverá ter prudência na reunião de agosto:

— Serviços mostram uma dinâmica ainda longe de dar conforto adicional para o Banco Central. Desta forma, mantemos nossa projeção de um corte de 0,25 pontos-base em agosto.

Alívio nos preços de alimentos e combustíveis

Uma retração nos preços associados à alimentação e transportes puxou para baixo o índice no mês. Juntos, esses dois grupos são os que mais pesam na cesta de consumo das famílias: representam quase metade do índice geral (42%). Os dois contribuíram juntos com -0,22 ponto percentual em junho.

O grupo Alimentação caiu 1,07%, puxado por uma queda na alimentação no domicílio. Os preços do óleo de soja caíram 9%, enquanto o custo das frutas, do leite longa vida e das carnes ficaram entre 2% e 3% mais baratos. Já a alimentação fora do domicílio, desacelerou de 0,56% para 0,46%, em virtude das altas menos intensas do lanche e da refeição.

— Nos últimos meses, os preços dos grãos, como a soja, caíram. Isso impactou diretamente o preço do óleo de soja e indiretamente os preços das carnes e do leite, por exemplo. Essas commodities são insumos para a ração animal, e um preço mais baixo contribui para reduzir os custos de produção. No caso do leite, há também uma maior oferta no mercado — explica André Almeida, analista da pesquisa.

Em Transportes, uma queda de 0,41% foi puxada por uma retração nos preços dos automóveis novos (-2,76%), dos automóveis usados (-0,93%) e combustíveis (-1,85%), incluindo quedas do óleo diesel, do etanol, do gás veicular e da gasolina. No lado das altas, as passagens aéreas subiram 10,96%, após queda de 17,73% em maio.

A queda do combustível está atrelada à redução dos preços da gasolina pela Petrobras. A estatal anunciou cortes no dia 17 de maio e no dia 30 de junho, um dia após volta da cobrança de impostos sobre combustíveis. No ano, já realizou cinco cortes no preço do combustível.

Programa de descontos para compra de veículos novos reduz preços

Segundo André Almeida, do IBGE, a redução nos preços dos automóveis está relacionada ao programa de descontos para compra de veículos novos, lançado em 6 de junho pelo governo federal:

— Isso pode ter relação também com a queda dos preços dos automóveis usados.

Já o grupo Habitação avançou 0,69%, influenciado pela alta da energia elétrica residencial (1,43%), seguida pela taxa de água e esgoto (1,69%). Em ambos os casos, houve reajustes aplicados em algumas áreas de abrangência da pesquisa. Por outro lado, houve queda nos preços de gás encanado (-0,04%), devido a reduções tarifárias, e do gás de botijão (-3,82%).

O grupo Saúde e cuidados pessoais, por sua vez, avançou 0,11%, influenciado pela alta nos preços dos planos de saúde, decorrente de reajuste autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Perspectivas

O mercado financeiro vêm reduzindo projeções para a inflação este ano. Agora, as estimativas já se aproximam do teto da meta de inflação estabelecida para 2023, que é de 4,75%. Especialistas acreditam que o IPCA vai encerrar o ano em 4,95%, contra 4,98% da semana passada. Há um mês, a projeção era de alta de 5,42% para este ano.


Fonte: O GLOBO

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