Drones atacam Crimeia após explosão em ponte, e Rússia faz ofensiva aérea contra cidades portuárias da Ucrânia

Drones atacam Crimeia após explosão em ponte, e Rússia faz ofensiva aérea contra cidades portuárias da Ucrânia

Megaestrutura que liga Rússia continental à península ocupada em 2014 foi parcialmente reaberta nesta terça-feira

A Rússia disse ter realizado "ataques maciços" durante a madrugada desta terça-feira contra as cidades portuárias ucranianas de Odessa e Mykolayiv em "vingança" pelas explosões na véspera contra a importante ponte que liga à Península da Crimeia ao território continental russo. Moscou também afirmou ter repelido drones ucranianos que tentaram atacar a região nas últimas horas, em um novo acirramento do conflito prestes a entrar no seu 18º mês.

O vaivém de drones e mísseis ocorre também nas primeiras 24 horas após a Rússia decidir não prorrogar o acordo firmado no ano passado para garantir a exportação de grãos ucranianos — raro consenso que conteve a disparada da inflação global. A decisão aumenta o risco de insegurança alimentar, particularmente entre os países mais pobres.

Odessa eram das cidades por onde os grãos saíam, e junto com Mykolayiv foi alvo dos ataques russos, retaliação que o presidente Vladimir Putin já havia afirmado ser iminente na segunda. Os ucranianos afirmam terem derrubado um total de 31 drones e interceptado seis mísseis Kalibr disparados do Mar Negro.

Uma instalação industrial no sul de Mykolayiv foi atingida, e destroços de um dos mísseis abatidos danificaram infraestruturas portuárias em Odessa, segundo Kiev. O Ministério da Defesa russo disse que o "ataque maciço de vingança" mirou em "instalações onde atos terroristas contra a Federação Russa eram preparados usando barcos sem tripulantes, além de seu lugar de manufatura em um estaleiro perto da cidade de Odessa".

As forças russas, paralelamente, dizem ainda ter derrubado 28 drones ucranianos na Península da Crimeia, afirmou também o Ministério da Defesa. Em um comunicado, afirmaram que 17 dos artefatos foram "destruídos" e outros 11, "suprimidos" por interferência eletrônica. Não houve vítimas ou danos a infraestruturas civis, afirmaram.

Explosão na ponte

Os ataques mútuos vêm um dia após as explosões contra a ponte sobre o Estreito de Kerch, que foi parcialmente reaberta para veículos nesta terça, disse no Telegram o vice-primeiro ministro Marat Khusnullin. Segundo ele, a mão das pistas foi invertida, e os carros prosseguem pela pista mais à direita do megaprojeto inaugurado por Putin em 2018.

Construída a um custo equivalente a US$ 3,7 bilhões, a superestrutura tem na realidade duas pontes paralelas — uma com quatro pistas para carros e outra para uma ferrovia dupla — e é a construção mais longa de uso duplo na Europa. Os serviços de trem já haviam sido parcialmente retomados na segunda.

Quando foi erguida, foi promovida como um troféu na anexação da Crimeia quatro anos antes, após a queda do governo pró-Moscou em Kiev e um referendo sem reconhecimento internacional. Hoje, é a principal artéria para o Kremlin abastecer seus soldados no sul da Ucrânia. Há uma rota terrestre secundária, pela costa sul da Ucrânia, ocupada pelos russos, mas se trata de um caminho estreito e exposto.

Não à toa, é desde o início da guerra que eclodiu em 24 de fevereiro tida como um alvo esperado para os ucranianos, e já sofreu outros ataques. Em outubro do ano passado, um trecho da ponte foi derrubado após a explosão do que os russos afirmaram ser um caminhão-bomba, paralisando o tráfego por algumas horas. A rodovia foi completamente reaberta em fevereiro e a ferrovia, em maio.

Os ucranianos não assumiram a autoria do ataque de outubro ou do de quinta-feira, mantendo a política de ambiguidade sobre assaltos contra o território russo que virou praxe para Kiev. Veículos da imprensa local e fontes que conversaram anonimamente com jornais e revistas internacionais, contudo, afirmaram que a autoria foi responsabilidade do serviço de inteligência e da Marinha da Ucrânia.

A nova ofensiva contra a ponte coincide também com o que o general ucraniano Oleksandr Syrsky caracterizou na segunda, no Telegram, como uma "situação complicada, mas sob controle" no leste do país. Horas antes, o comando militar na região disse que Moscou tem mais de 100 mil soldados e 900 tanques a postos, com atividades que parecem se intensificar em Kupiansk e Lyman, ambas cidades retomadas pelos ucranianos no ano passado.

Acordo de grãos

Paralelamente, seguem as condenações à decisão russa de não renovar o acordo de grãos mediado pela ONU e pela Turquia no ano passado. O pacto permitiu a exportação de aproximadamente 32,9 milhões de toneladas de grãos desde agosto — mais da metade para países em desenvolvimento.

Moscou reclama desde que o acordo foi selado que a enxurrada de sanções ocidentais impostas para tentar minar a capacidade russa de financiar a guerra impedem um pacto paralelo para permitir pagamentos, seguros e transporte para os grãos russos. Ambos países estão entre os maiores exportadores de alimentos e respondem por 30% do comércio global de trigo.

Pelo pacto, os navios tinham permissão para passar com segurança por embarcações de guerra russas que bloqueam os portos do Mar Negro desde o início da invasão. Os navios são inspecionados na costa de Istambul, em parte para garantir que não estejam carregando armas, uma pré-condição para que o pacto fosse selado.

Nesta terça, Moscou acusou os ucranianos de usarem o pacto com "fins militares", afirmando que o "fato evidente" "não é nenhum segredo para ninguém" — o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, contudo, não deu provas para tal afirmação. Continuar a exportação dos grãos sem tais garantias, ele disse, é significativamente arriscado.

O presidente Volodymyr Zelensky, por sua vez, afirmou que a exportação de grãos será o "assunto número um" na reunião ministerial desta terça. Paralelamente, o ministro da Agricultura da Polônia, Robert Telus, acusou Moscou de usar os grãos "como munição". O Quênia, por sua vez, disse por meio de representantes da sua Chancelaria que a decisão se equipara a uma "punhalada nas costas".


Fonte: O GLOBO

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