Saída de ministra do Turismo ameaça feudos do PT em hospitais federais do Rio

Saída de ministra do Turismo ameaça feudos do PT em hospitais federais do Rio

Com iminente queda da esposa Daniela Carneiro, Waguinho, prefeito de Belford Roxo, se articula de olho em cargos na Saúde sob comando da bancada petista

Porto Velho, RO - Em um desdobramento das pressões por trocas ministeriais no governo Lula, o grupo político da ministra Daniela Carneiro (Turismo), que balança no cargo, ameaça avançar sobre feudos do PT fluminense, em especial a gestão de hospitais federais no Rio. 

Marido de Daniela, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (Republicanos), negocia espaços ligados à Saúde, área também cobiçada pelo Centrão, de olho em maior capilaridade no estado. Lideranças petistas admitem nos bastidores a possibilidade de perder cargos antes reservados ao partido.

Na avaliação de interlocutores do Palácio do Planalto e do PT fluminense, o apoio de Waguinho a Lula no segundo turno de 2022 torna “natural” uma reacomodação de seu grupo político com a iminente perda da pasta do Turismo. 

A substituição de Daniela vem sendo exigida pela bancada do União Brasil na Câmara, a pretexto de melhorar a relação com o governo. Embora filiada ao União, a ministra é tratada como nome da “cota pessoal” de Lula.

Na quarta-feira, Waguinho se reuniu com a ministra Nísia Trindade (Saúde). Apesar de o prefeito ter espalhado que a audiência buscava debater o envio de recursos federais a Belford Roxo e a revisão dos tetos orçamentários da Saúde no município, o encontro foi visto como um primeiro aceno em busca de cargos. 

Segundo aliados, Waguinho também negocia emplacar nomes nas superintendências de autarquias como o Ibama e o Dnit no Rio, ainda vagas. Um dirigente do PT, contudo, avalia como inevitável o interesse do prefeito de Belford Roxo e de outras lideranças políticas nos hospitais federais, e avalia que o partido cometeu um “erro de avaliação” ao querer concentrar o comando desses postos com sua própria bancada.

Alvo de interesse político por seu poder orçamentário e volume de atendimentos, a rede de hospitais federais do Rio está sob comando do PT desde abril, quando a ministra da Saúde empossou os novos diretores das seis unidades. O orçamento total dos hospitais para este ano beira os R$ 840 milhões, segundo o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), órgão responsável pela gestão da rede, que realizou cerca de 680 mil consultas médicas e ambulatoriais no ano passado. 

Dois diretores apadrinhados por petistas já foram exonerados — Abel Martinez, do Hospital dos Servidores, e Gustavo Magalhães, dos Hospital Cardoso Fontes —, abrindo flancos para novas indicações políticas.

Martinez, cuja demissão foi publicada ontem no Diário Oficial, era um dos três diretores indicados pelo deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ). Gadelha preencheu cargos de chefia com aliados de São Gonçalo, município da Região Metropolitana no qual pretende concorrer à prefeitura em 2024. 

Além de Martinez, que atuou na gestão de Gadelha na secretaria de Saúde de São Gonçalo, entre 2014 e 2016, o deputado apadrinhou os diretores do Hospital de Bonsucesso, Gabriel Farias da Cruz, e do Hospital do Andaraí, Jefferson Antunes. Ambos já haviam ocupado postos de confiança nessa área no município.

A demissão de Martinez ocorreu em meio a críticas de funcionários, trazidas à tona pelo RJTV há duas semanas, depois da instalação de uma porta com isolamento acústico em seu gabinete e da convocação de fornecedores para reuniões fechadas. No fim de maio, o diretor do Cardoso Fontes, Gustavo Magalhães, havia pedido exoneração após reportagem da TV Globo revelar a existência de um projeto similar na unidade.

Magalhães teve sua nomeação apoiada pelo deputado federal Reimont (PT-RJ), que não quis indicar outro nome após o desgaste do antigo diretor. O parlamentar rechaçou as pressões políticas para mudanças na Saúde, que têm atingido a própria ministra, considerada um nome técnico e com apoio da base petista. O cargo de Trindade é cobiçado pelo PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL).

— Nesse contexto de dança das cadeiras, defendo de maneira incondicional a gestão do ministério nas mãos da ministra Nísia — afirmou Reimont.

Coube a Trindade a indicação de Alexandre Telles para a chefia do DGH, em cujo guarda-chuva ficam os seis hospitais federais e outros três institutos de saúde no Rio. Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Telles é considerado um nome ligado ao PT, o que fez sua nomeação ser criticada no início do ano pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que questionou o lastro técnico da escolha.

Outro nome que ganhou espaço graças ao aval petista foi o da atual diretora do Hospital de Ipanema, Selene Bezerra. Ela já havia ocupado o mesmo posto no governo Dilma Rousseff (PT), mas foi exonerada após o impeachment em 2016. A nomeação de Bezerra foi apadrinhada pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que posou ao lado da diretora e declarou apoio em sua posse no hospital, em abril.

Indicações ligadas ao PT também ocorreram na estrutura do Ministério da Saúde, responsável pela coordenação administrativa da rede de hospitais federais fluminenses. O coordenador-geral, Carlos Ney Pinheiro Ribeiro, é correligionário do deputado Dimas Gadelha. 

Já a coordenadora de planejamento e controle interno, Fernanda Cajueiro da Almeida, é casada com um assessor parlamentar de Gadelha, Sandro Almeida, conforme revelou o RJTV. Parlamentares petistas afirmam que os espaços destinados a Gadelha, médico sanitarista de formação, têm relação com sua atuação pregressa na área de Saúde.


Fonte: O GLOBO

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