Relembre: A Copa em que o Brasil encantou o mundo, mas implorou por apoio

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Faixa de protesto no pódio marcou a carreira da zagueira Daiane Bagé, que só voltou a ser convocada quatro anos depois

Porto Velho, RO -
A Copa do Mundo feminina de 2007 tem uma imagem símbolo que rodou o mundo e está na memória dos brasileiros que acompanharam aquela geração. 

No pódio, entre o misto de tristeza pela derrota e a satisfação de um vice-campeonato mundial, a zagueira da seleção Daiane Bagé carregou a faixa com os dizeres “Brasil, precisamos de apoio”. Um recado a todos do país para que a modalidade ganhasse a merecida atenção.

Apesar do ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio, conquistado no Maracanã lotado, do segundo lugar no Mundial da China e da prata em Pequim-2008, o futebol feminino não recebeu o apoio esperado e não teve investimentos internos para desenvolver a modalidade naquela época.

Pelo contrário. Se aquela imagem ganhou contornos históricos de luta, na realidade, transformou Daiane em bode expiatório. Após o protesto, a zagueira ficou na geladeira por um bom tempo. Só voltou a ser convocada quatro anos depois para o ciclo da Copa do Mundo de 2011 e os Jogos Olímpicos de Londres-2012.

Não houve uma punição formal por parte da CBF. Mas a ex-zagueira soube, algum tempo depois, que houve um reunião na entidade com a comissão técnica para descobrir de quem partiu a ideia do protesto. Pessoas próximas a ela, que trabalhavam na seleção à época, contaram que ninguém se pronunciou.

— Tinham outras jogadoras segurando a faixa, mas eu fiquei ali na frente. A imagem que ficou foi essa. E fui a única a não ser mais convocada — relembra Daiane, que só retornou à seleção após mandar uma carta para a CBF.

Bagé pagou por uma decisão coletiva. Ela recorda que estavam todas reunidas em um dos quartos da concentração, às vésperas da final contra a Alemanha, quando tiveram a ideia de uma faixa para chamar a atenção de todo o mundo. Não era uma crítica direcionada à CBF, segundo a ex-zagueira.

As jogadoras, inclusive, questionaram o então técnico da seleção brasileira Jorge Barcellos se haveria algum problema.

— Ele falou que não teria problema e disse que aquele era o momento mesmo por estarmos na final. Não era para criticar ninguém. No momento, só queríamos mostrar que a gente estava chegando na final e que realmente precisava de apoio. À exceção de algumas que tinham um salário um pouco melhor, outras passavam muitas dificuldades. Estamos falando de jogadoras da seleção numa final de Copa do Mundo. Só queríamos mostrar isso — conta.

Daiane, hoje aos 40 anos, não conta o episódio com mágoa. Aqueles dias na China também continuam sendo inesquecíveis pela surpreendente campanha brasileira. Uma geração que é considerada a melhor da história da seleção feminina até hoje. Aquele Mundial terminou com Marta artilheira e melhor jogadora da competição, apesar da derrota por 2 a 0 na decisão.

Em suas palavras, o Brasil estava “jogando o fino” no futebol. Meses antes havia vencido o Pan no Rio com vitória sobre as americanas. A medalha de ouro deu um ânimo extra, mas o sucesso da seleção não era algo de última hora. 

A base daquele time vinha jogando junto desde 2002 e a equipe foi ganhando corpo ao longo do ciclo. Daí, o primeiro lugar do grupo e as goleadas no campeonato, incluindo o 4 a 0 sobre as americanas nas semifinais.

—Queríamos tanto aquele título, estávamos muito focadas e as coisas foram acontecendo. Jamais imaginávamos conseguir um placar daqueles na semifinal. Sabíamos que os Estados Unidos eram a seleção a ser batida, que era muito forte, que já vinha com vários e vários títulos — diz Bagé, que encerrou a carreira em 2021 após sucessivas lesões no joelho.

Daiane até acredita que a super vitória sobre as americanas mexeu um pouco com o Brasil para a final diante da Alemanha, que também era uma das favoritas ao título. Por isso, o sentimento de frustração pela derrota, mas junto com a sensação de dever cumprido ao receber a medalha de prata.

— Quando subimos no pódio foi muito emocionante. A gente sabia que estava fazendo história. Depois daqueles dois jogos, o Brasil passou a ser olhado de outra forma — recorda.


Fonte: O GLOBO

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