Por que o Botafogo, líder do Brasileirão, tem apenas a 15ª melhor média de público do campeonato?

Por que o Botafogo, líder do Brasileirão, tem apenas a 15ª melhor média de público do campeonato?

Alvinegro não acompanha boom experimentado pela Série A em ano de torcida recorde

Porto Velho, RO -
O Campeonato Brasileiro vive um momento histórico quando o assunto é a presença de torcedores nos estádios. Com dez rodadas disputadas até o momento, a Série A alcançou a média de 26.135 pagantes por jogo, o maior índice de todos os tempos. 

Em meio a tantos exemplos positivos de comparecimento, um ponto fora da curva chama a atenção, especialmente considerando-se o contexto: líder da competição desde o início, o Botafogo tem apenas a 15ª melhor média de público.

A campanha animadora do alvinegro vem na esteira de um movimento maior, decorrente da transformação numa SAF sob o comando do americano John Textor. Entre as novidades práticas, estão alterações feitas no Nilton Santos para que o time e a torcida tenham maior conforto no estádio. Além da implementação do gramado sintético, apelidado de tapetinho e elogiado por dirigentes, treinadores e atletas pela boa qualidade de jogo que proporciona.

O clube também fez uma manutenção nas bilheterias e estátuas ao redor do Nilton Santos; colocou brinquedos para crianças em alguns setores; realizou ações próprias e com patrocinadores; e inaugurou quiosques para vender produtos oficiais e o Fire Burger, marca de hambúrgueres artesanais do clube. Porém, nada disso tem sido suficiente para aumentar, de forma regular, a média de 17.821 pagantes por rodada.

Copo meio cheio

Desde o início da temporada, uma queixa frequente de torcedores nas redes sociais é que o preço dos ingressos é um fator de dificuldade. Geralmente, o valor da entrada inteira mais barata para os jogos no Brasileiro é de R$ 60 e a mais cara, R$ 200 — antes considerado popular, o setor Norte tem sido aberto somente em duelos de alta demanda. O argumento é corroborado por Amir Somoggi, sócio-diretor da Sports Value, empresa de marketing esportivo.

— O Botafogo tem que estudar a questão da precificação. Se você não está lotando o estádio, pode ser porque o produto não é tão bom, o que não é o caso. O Botafogo nunca esteve tão bem. Então, a primeira variável é analisar os preços que estão sendo praticados, porque talvez não estejam condizente com a capacidade de compra — diz Somoggi.

Procurado, o alvinegro não quis falar de forma oficial. No entanto, fontes ouvidas pelo GLOBO alegam que o clube já experimentou todas as variáveis possíveis entre preços, horários e dias de jogos, incluindo feriados e momentos de boa e má fases do time. 

Dessa forma, internamente acredita-se que o hábito de ir ao estádio de forma orgânica ao longo de toda a temporada ainda levará tempo para ser desenvolvido entre os torcedores.

O Botafogo ainda vê como positivo o fato de a média de 20 mil torcedores presentes estar se consolidando — são 20.058 pessoas por rodada nesta edição, incluindo as gratuidades. No ano passado, o índice de 20.422 foi o melhor do alvinegro nos últimos dez anos. Há também o entendimento de que, embora o número não seja tão expressivo durante todo o ano, o comparecimento em peso se dá nos jogos decisivos, como contra o Athletico na Copa do Brasil.

Receita faz falta

Além do natural apoio ao time, um aspecto importante na ida do torcedor ao estádio é o econômico. Embora tenha média de renda de mais de R$ 1 milhão por partida, o Botafogo soma um lucro total de apenas R$ 213.877,79 no Nilton Santos — o montante não contempla o jogo contra o Fortaleza, cujo borderô não foi disponibilizado pela CBF até a publicação da reportagem. 

Tal valor é considerado irrisório, fato reforçado por Textor, que, em entrevista ao site ge, afirmou que a melhor fonte de receita são os shows no estádio.

Dessa forma, o clube não consegue levar o torcedor ao Nilton Santos de forma a chegar perto da capacidade máxima, nem lucrar a ponto de turbinar os investimentos.

— O clube tem que fazer mil estudos, mas uma coisa é certa: a torcida do Botafogo, assim como a do Santos, tem característica mais envelhecida. Uma pessoa de 50, 60 anos é muito mais acomodada e menos empolgada que os mais jovens. O cara de uns 35, quando tem criança, pode pensar “dane-se que meu time não ganha, vou levar meu filho para ele ser torcedor”. 

Tem uma motivação extra — ilustra Somoggi. — As pesquisas deixam bem claro que o Botafogo e o Santos são duas torcidas muito envelhecidas e que podem sofrer desse comodismo do torcedor, o que é muito ruim para uma receita que poderia ser o dobro no caso dos cariocas.

Menos mal para o Botafogo que o programa de sócio-torcedor do clube bateu, recentemente, seu recorde de associados. No início da SAF, a meta era chegar aos 45 mil. No momento, já são mais de 46 mil — e uma nova meta a alcançar, de 50 mil. Segundo o ge, o programa hoje levanta cerca de R$ 2 milhões, o que seria o maior patamar de sua história.


Fonte: O GLOBO

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