Campanha de desinformação articulada por apoiadores do ex-presidente domina a discussão sobre o projeto e vira entrave para o Planalto
O cenário desfavorável ao campo que quer a aprovação do projeto é apontado em um levantamento de pesquisadoras do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio e do Centro de Administração e Políticas Públicas da Universidade de Lisboa. Críticos ao PL tiveram engajamento superior: foram 50 vezes mais visualizações em seus vídeos do YouTube, quase oito vezes mais interações nas publicações do Facebook, e cinco vezes mais engajamento nas postagens do Instagram.
A análise englobou três momentos: as expectativas com a votação pela urgência do PL, entre 18 e 28 de abril; a entrada das big techs no debate, após a aprovação da urgência para a votação do PL, entre 28 de abril e 2 de maio; e o adiamento da votação do PL 2630, entre 2 e 6 de maio. No YouTube, que registrou a maior diferença entre os campos, conteúdos contrários à aprovação do PL somaram 4,8 milhões de visualizações, ante apenas 84 mil visualizações de postagens favoráveis ao texto.
Para Letícia Capone, pesquisadora da PUC-RJ e professora substituta de Comunicação da UFRJ, os números indicam que perfis contrárias à proposta, sobretudo de bolsonaristas, conseguiram manter uma narrativa constante, concisa e unificada nas redes antes e após o adiamento de sua votação, a de que o PL se traduziria em “censura”. Em mais de 93% das publicações de perfis de extrema-direita com o termo “2630”, referência ao número do projeto, a palavra “censura” foi mencionada.
A alegação falsa também foi usada pelo Telegram, que disparou um texto contra o PL aos seus usuários. A plataforma precisou fazer uma retratação após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
— Existe um alinhamento da argumentação central, que é o de atribuir censura colando o termo ao próprio nome do PL — acrescenta.
Já o campo favorável à aprovação do PL, que incluiu o governo, se posicionou de forma fragmentada, com dificuldades de articular uma narrativa dominante sobre a pauta. Uma reação só ocorreu após a campanha explícita das big techs contra a regulamentação, o que ajudou a unificar o discurso, em meio aos questionamentos às ações das plataformas de redes sociais. O maior destaque foi a crítica à decisão do Google em estampar um link de uma nota contra o PL na capa de sua página de busca.
— Houve dificuldade do campo em se articular e se organizar em torno dessas publicações. O campo progressista só entra depois que as plataformas começam a se posicionar contra o PL — pontua Capone.
Um ponto destacado pelas pesquisadoras é que o perfil do presidente Lula mencionou, no período, o combate às fake news de modo genérico, sem associação com o projeto de lei. A defesa da proposta, no governo, partiu principalmente do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta. Não houve, porém, uma “articulação de mensagem”.
O governo discute como promover convergência na comunicação e contribuir no debate do tema, mas o entendimento é o de que se trata de um projeto do Congresso. A avaliação é que a mentira em tom alarmista é mais mobilizadora nas redes do que a defesa do texto, pela forma como funcionam os algoritmos, e que unificar o discurso vai contribuir para esse enfrentamento.
Na semana passada, a defesa do PL ganhou o apoio de fã-clubes de artistas, como os das cantoras Anitta, Juliette, Luísa Sonza, Pabllo Vittar, nas redes. A própria cantora Juliette compartilhou o slogan da campanha batizada de “contra fake e hate” e focada no combate a discursos de ódio.
A participação de artistas em debates políticos também foi observada ao longo do governo Bolsonaro e nas eleições do ano passado. O objetivo é atingir segmentos que não costumam se envolver nessas discussões e mobilizar os mais jovens.
Fonte: O GLOBO
Fonte: O GLOBO
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