Chance de ex-presidente ser impedido de concorrer aumentou após avanço de ação eleitoral sobre ataques às urnas; indicação própria e aceno a eleitores moderados podem pesar na sucessão
Porto Velho, RO - A possibilidade de Jair Bolsonaro ficar inelegível e não disputar a Presidência em 2026 já acende as discussões sobre quem poderá substituir o ex-presidente no campo da direita na próxima eleição.
No grupo bolsonarista, quatro nomes despontam como favoritos a postulante a herdeiro: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL); o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto (PL); e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
As chances de Bolsonaro ficar impedido de concorrer tornaram-se maiores na semana passada, após a Procuradoria-Geral Eleitoral defender sua inelegibilidade devido a indícios de abuso de poder político em ataques feitos ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores. Há ainda outras 15 ações contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Caso a inelegibilidade se concretize, o eleitorado bolsonarista tende a migrar em bloco para o nome indicado pelo ex-presidente, avalia a cientista política Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
— Para se tornar viável, essa pessoa precisará manter um certo equilíbrio entre as pautas que o bolsonarismo defende e uma comunicação e postura menos belicosas — analisa Camila, para quem essa estratégia seria necessária para atrair os apoiadores não convictos do ex-presidente.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, 22% dos brasileiros se declaram bolsonaristas.
Em entrevista ao GLOBO, Tarcísio foi citado como opção a Bolsonaro pelo ex-ministro e senador Ciro Nogueira (PP-PI). Ele chegou aos cem dias à frente do governo de São Paulo com uma boa aprovação, de 44%, segundo o Datafolha.
Sempre que questionado sobre a possibilidade de ser candidato, Tarcísio desconversa. Segundo interlocutores, a antecipação do assunto poderia ser lida como oportunismo e traição a Bolsonaro. A expectativa é que o governador paulista aguarde um cenário definitivo para avaliar se concorre ou não. Mas pesa na balança o fato de ele ainda poder disputar a reeleição.
Resistências a Tarcísio
A socióloga Esther Solano, que fez pesquisas qualitativas com o nome do governador paulista, diz que ele tem boa performance entre eleitores ideologicamente indefinidos e bolsonaristas moderados que estão cansados do radicalismo do ex-presidente.
— Tarcísio é conservador, mas não radical, e consegue navegar entre os valores (do bolsonarismo). Em São Paulo, ele aprovou a cannabis medicinal no SUS e, por outro lado, está tentando aprovar privatizações. Ele ainda conseguiu sair na frente no tema da violência escolar, conjugando o discurso da segurança nas escolas com o da saúde pública — exemplifica Esther.
O problema é que o governador paulista tem encontrado desconfiança de bolsonaristas pelos seus posicionamentos mais ao centro e o pouco espaço dado à ala ideológica na máquina estadual. Tarcísio preteriu o próprio partido nas nomeações ao Palácio dos Bandeirantes e quase não cedeu cargos ao PL. Ao mesmo tempo, abriu um canal de diálogo com o presidente Lula e fez de Gilberto Kassab (PSD), figura rejeitada por apoiadores de Bolsonaro, um dos quadros mais influentes de sua gestão.
Um nome que hoje é mais palatável para a base é o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Além de ser da família, ela desempenhou papel central na campanha do ex-presidente em 2022, principalmente para fidelizar o eleitorado evangélico e tentar reduzir a resistência do público feminino a Bolsonaro.
No mês passado, ela assumiu a presidência do PL Mulher com a missão de manter o bolsonarismo engajado e atrair mais mulheres para esse campo político. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, disse, em entrevista ao GLOBO, que a ex-primeira-dama “pode ser candidata até a presidente”. Mas a ideia é rechaçada pelo próprio Bolsonaro, que vê a mulher sem “vivência política” para disputar uma eleição.
Além de não ter o apoio do marido, Michelle tem contra si o fato de acumular episódios controversos mesmo sem nunca ter ocupado um cargo público. A ex-primeira-dama recebeu em sua conta cheques depositados pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, acusado de comandar um esquema de “rachadinhas”, e foi um dos pivôs do episódio envolvendo conjunto de joias, dado pelo governo saudita, que foi alvo de tentativas irregulares de liberação pelo antigo governo junto à Receita Federal.
Outro nome próximo a Bolsonaro que surge como seu possível sucessor é o de Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e que foi candidato a vice na chapa do ex-presidente.
General da reserva do Exército, o ex-ministro conta com a simpatia da parcela do eleitorado que nutre admiração pelas Forças Armadas e tem no currículo o comando da intervenção federal na segurança pública ordenada pelo então presidente Michel Temer (MDB) no Rio de Janeiro em 2018. A experiência, no entanto, pode render críticas de adversários políticos por causa do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido durante esse período, e declarações exaltando a ditadura militar, o que afasta eleitores de fora do bolsonarismo.
Tanto Braga Netto quanto Michelle, apesar de mobilizarem a ala mais radical de Bolsonaro, não demonstram hoje ter uma capacidade unificadora, segundo as especialistas ouvidas pelo GLOBO.
Frente com o PSDB
O governador mineiro, Romeu Zema, corre por fora dessa disputa. De um partido que não faz parte do núcleo bolsonarista, ele aposta mais no antipetismo do que nas pautas ideológicas, e tem feito uma gestão se equilibrando entre moderação e acenos à direita.
— Zema é considerado um liberal na economia, característica que não cria consenso no Brasil. Ele também não é um sujeito que tem capacidade mobilizadora em torno de outros valores, como Braga Netto tem com a ideia do militarismo, e Michelle com as temáticas da fé, moral e família. Por último, não tem carisma, que é o capital pessoal — avalia Esther Solano.
Zema ou Tarcísio, caso um deles assuma a missão de encabeçar a oposição à esquerda em 2026, tem a promessa de apoio do governador do Rio Grande do Sul e presidente nacional do PSDB, Eduardo Leite. O tucano afirmou na última semana que pretende “estar junto” dos governadores de Minas e São Paulo para construir uma alternativa a Lula e Bolsonaro na próxima disputa presidencial.
Veja os pontos fortes e fracos dos possíveis herdeiros do bolsonarismo
As chances de Bolsonaro ficar impedido de concorrer tornaram-se maiores na semana passada, após a Procuradoria-Geral Eleitoral defender sua inelegibilidade devido a indícios de abuso de poder político em ataques feitos ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores. Há ainda outras 15 ações contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Caso a inelegibilidade se concretize, o eleitorado bolsonarista tende a migrar em bloco para o nome indicado pelo ex-presidente, avalia a cientista política Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
— Para se tornar viável, essa pessoa precisará manter um certo equilíbrio entre as pautas que o bolsonarismo defende e uma comunicação e postura menos belicosas — analisa Camila, para quem essa estratégia seria necessária para atrair os apoiadores não convictos do ex-presidente.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, 22% dos brasileiros se declaram bolsonaristas.
Em entrevista ao GLOBO, Tarcísio foi citado como opção a Bolsonaro pelo ex-ministro e senador Ciro Nogueira (PP-PI). Ele chegou aos cem dias à frente do governo de São Paulo com uma boa aprovação, de 44%, segundo o Datafolha.
Sempre que questionado sobre a possibilidade de ser candidato, Tarcísio desconversa. Segundo interlocutores, a antecipação do assunto poderia ser lida como oportunismo e traição a Bolsonaro. A expectativa é que o governador paulista aguarde um cenário definitivo para avaliar se concorre ou não. Mas pesa na balança o fato de ele ainda poder disputar a reeleição.
Resistências a Tarcísio
A socióloga Esther Solano, que fez pesquisas qualitativas com o nome do governador paulista, diz que ele tem boa performance entre eleitores ideologicamente indefinidos e bolsonaristas moderados que estão cansados do radicalismo do ex-presidente.
— Tarcísio é conservador, mas não radical, e consegue navegar entre os valores (do bolsonarismo). Em São Paulo, ele aprovou a cannabis medicinal no SUS e, por outro lado, está tentando aprovar privatizações. Ele ainda conseguiu sair na frente no tema da violência escolar, conjugando o discurso da segurança nas escolas com o da saúde pública — exemplifica Esther.
O problema é que o governador paulista tem encontrado desconfiança de bolsonaristas pelos seus posicionamentos mais ao centro e o pouco espaço dado à ala ideológica na máquina estadual. Tarcísio preteriu o próprio partido nas nomeações ao Palácio dos Bandeirantes e quase não cedeu cargos ao PL. Ao mesmo tempo, abriu um canal de diálogo com o presidente Lula e fez de Gilberto Kassab (PSD), figura rejeitada por apoiadores de Bolsonaro, um dos quadros mais influentes de sua gestão.
Um nome que hoje é mais palatável para a base é o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Além de ser da família, ela desempenhou papel central na campanha do ex-presidente em 2022, principalmente para fidelizar o eleitorado evangélico e tentar reduzir a resistência do público feminino a Bolsonaro.
No mês passado, ela assumiu a presidência do PL Mulher com a missão de manter o bolsonarismo engajado e atrair mais mulheres para esse campo político. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, disse, em entrevista ao GLOBO, que a ex-primeira-dama “pode ser candidata até a presidente”. Mas a ideia é rechaçada pelo próprio Bolsonaro, que vê a mulher sem “vivência política” para disputar uma eleição.
Além de não ter o apoio do marido, Michelle tem contra si o fato de acumular episódios controversos mesmo sem nunca ter ocupado um cargo público. A ex-primeira-dama recebeu em sua conta cheques depositados pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, acusado de comandar um esquema de “rachadinhas”, e foi um dos pivôs do episódio envolvendo conjunto de joias, dado pelo governo saudita, que foi alvo de tentativas irregulares de liberação pelo antigo governo junto à Receita Federal.
Outro nome próximo a Bolsonaro que surge como seu possível sucessor é o de Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e que foi candidato a vice na chapa do ex-presidente.
General da reserva do Exército, o ex-ministro conta com a simpatia da parcela do eleitorado que nutre admiração pelas Forças Armadas e tem no currículo o comando da intervenção federal na segurança pública ordenada pelo então presidente Michel Temer (MDB) no Rio de Janeiro em 2018. A experiência, no entanto, pode render críticas de adversários políticos por causa do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido durante esse período, e declarações exaltando a ditadura militar, o que afasta eleitores de fora do bolsonarismo.
Tanto Braga Netto quanto Michelle, apesar de mobilizarem a ala mais radical de Bolsonaro, não demonstram hoje ter uma capacidade unificadora, segundo as especialistas ouvidas pelo GLOBO.
Frente com o PSDB
O governador mineiro, Romeu Zema, corre por fora dessa disputa. De um partido que não faz parte do núcleo bolsonarista, ele aposta mais no antipetismo do que nas pautas ideológicas, e tem feito uma gestão se equilibrando entre moderação e acenos à direita.
— Zema é considerado um liberal na economia, característica que não cria consenso no Brasil. Ele também não é um sujeito que tem capacidade mobilizadora em torno de outros valores, como Braga Netto tem com a ideia do militarismo, e Michelle com as temáticas da fé, moral e família. Por último, não tem carisma, que é o capital pessoal — avalia Esther Solano.
Zema ou Tarcísio, caso um deles assuma a missão de encabeçar a oposição à esquerda em 2026, tem a promessa de apoio do governador do Rio Grande do Sul e presidente nacional do PSDB, Eduardo Leite. O tucano afirmou na última semana que pretende “estar junto” dos governadores de Minas e São Paulo para construir uma alternativa a Lula e Bolsonaro na próxima disputa presidencial.
Veja os pontos fortes e fracos dos possíveis herdeiros do bolsonarismo
- Michelle Bolsonaro (Ex-primeira-dama e presidente do PL Mulher)
- Prós:É casada com Bolsonaro e tem a simpatia do bolsonarismo
- Adere integralmente às pautas ideológicas do bolsonarismo
- Foi citada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, como possível candidata à Presidência
- Foi considerada 'trunfo eleitoral' na campanha de Bolsonaro à reeleição, ajudando a atrair o eleitorado feminino e evangélico
- Contras:
- Nunca exerceu mandato
- Precisa responder sobre casos negativos, como o das joias sauditas e as suspeitas de rachadinha
- O próprio Bolsonaro disse que ela não tem "vivência" para disputar a eleição
Mantém rusgas com os filhos de Bolsonaro
Tarcísio de Freitas (Governador de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura)
Tarcísio de Freitas (Governador de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura)
- Prós:
- Está à frente do estado com o maior orçamento do Brasil
- Foi bem avaliado em seus cem primeiros dias de governo, aprovado por 44% dos paulistas
- Em função do perfil liberal, tem o apoio do empresariado
- Pode usar obras tocadas no seu período como ministro da Infraestrutura para atrair eleitores de outras regiões
- Contras:
- Distanciou-se da base bolsonarista após assumir o governo
- Não adere integralmente às pautas ideológicas
- É criticado por ter participado de encontros com Lula e políticos da esquerda
- Bolsonaro já disse a aliados que não o vê pronto para disputar uma eleição contra Lula
Walter Braga Netto (Ex-ministro da Defesa e vice na chapa de Bolsonaro)
- Prós:
- Foi vice em uma chapa presidencial que recebeu mais de 58 milhões de votos
- Comandou a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro em 2018
- É homem de confiança de Bolsonaro, que já o chamou de 'vice dos sonhos' antes de definir sua chapa em 2022
- Por ser militar, consegue herdar a admiração que parte do eleitorado tem pelas Forças Armadas
- Contras:
- Seria a volta de um general à cadeira de presidente da República, fato que não
- acontece desde a ditadura militar
- Assassinato de Marielle Franco, ocorrido durante sua intervenção no Rio, pode virar munição para adversários
- No relatório final da CPI da Covid, foi indiciado por "epidemia com resultado morte"
- Falta construir uma identidade política
Romeu Zema (Governador de Minas Gerais)
- Prós:
- Conseguiu se reeleger no primeiro turno em MG contra um adversário apoiado por Lula
- Conquistou apoio de partidos do Centrão como o PP e o MDB em 2022
- Histórico como administrador de rede varejista pode atrair confiança do empresariado
- Tem como reduto político o segundo maior colégio eleitoral e de onde saíram oito presidentes da República
- Contras:
- Só apoiou Bolsonaro no segundo turno
- Já criticou o governo Bolsonaro
- É de um partido pequeno e que não faz parte do núcleo bolsonarista
- É desconhecido fora de Minas Gerais
Fonte: O GLOBO
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POLÍTICA