Aliados e especialistas apontam ainda erros de estratégia, baixa efetividade e centralização na figura do presidente
Porto Velho, RO - Com dificuldade nas redes sociais para enfrentar o bolsonarismo, a comunicação se tornou foco de críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O caso mais recente é a criação, pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), do site BrasilContraFake, caracterizado pelo perfil oficial do petista como “plataforma de checagem de informações e combate à desinformação”. Há também reparos a casos em que é apontado uso político da estrutura institucional, além de erros de estratégia.
Agências de checagem apontaram falta de transparência nos critérios de verificação do site BrasilContraFake e politização da atividade. O entendimento é que a checagem de fatos precisa ser feita com transparência e apartidarismo, o que seria incompatível com uma atuação do governo.
Para a CEO da agência Lupa, Natália Leal, o site é uma iniciativa de propaganda e comunicação institucional, não devendo ser classificado como checagem. A campanha da forma como foi feita, defende, pode gerar confusão na população, que passaria a ver a atividade como algo politizado:
— O governo parece abrir mão de investir na frente da educação midiática, uma educação digital para a sociedade, para lançar uma agência de checagem que, na verdade, faz propaganda — afirma Leal. — Abrir esse precedente para que o governo diga o que é desinformação é muito perigoso para o exercício do jornalismo e para a qualidade do debate público.
Aliados e especialistas apontam ainda erros de estratégia política. O caso mais emblemático é a fala de Lula na qual o presidente classificou como “armação” do senador Sergio Moro (União-PR) o plano de uma organização criminosa, desmontado pela Polícia Federal, para matar autoridades. A declaração teve repercussão negativa e acabou dando projeção a Moro.
Outra avaliação recorrente é a de que o governo não consegue fazer frente ao bolsonarismo e suas campanhas de desinformação e tem uma comunicação restrita a apoiadores mais fiéis.
Professora da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), Mara Telles aponta que há dificuldade em levar as políticas públicas às plataformas e defende que parte dos apoiadores mais fiéis do governo busca mais “desconstruir adversários do que reconstruir a imagem do presidente e do petismo”. Outro aspecto é que a gestão federal não tem conseguido combater desinformação de forma eficaz. Um exemplo é a campanha de vacinação.
— A cobertura vacinal decresceu enormemente no país, mas a atual campanha de vacinação não conseguiu, ainda, dialogar com os antivacinas, apenas com as pessoas que acreditam na ciência. Uma parte das famílias tem “medo” das vacinas, em função da disseminação de notícias falsas. É preciso conhecer as razões da desconfiança e dialogar com esse segmento — diz a pesquisadora. — O combate ao negacionismo precisa ser feito urgentemente, uma vez que ele impede que as políticas públicas tenham adesão da população e que a comunicação governamental alcance setores ainda refratários.
Personalismo
Já o antropólogo e podcaster Orlando Calheiros, que tem atuação na esquerda e tem feito críticas à condução da comunicação do Executivo, avalia que o governo aposta em um modelo centralizador de informações na figura de Lula e que, mesmo nesse formato, não tem conseguido explorar as iniciativas positivas da atual gestão. Ele defende que o governo deveria investir em uma “pluralização dos canais de informação” nas redes e que isso permitiria chegar à população que, por exemplo, rejeita Lula:
— O desafio é inaugurar um tipo de comunicação que não seja o estilo do bolsonarismo nem aquele dos blogues. O governo faz uma versão requentada dessa comunicação antiga e aposta na centralização. Mas toda agenda positiva do governo nem sequer é mencionada nos perfis do Lula.
Enquanto há arestas a aparar, o vaivém de avisos oficiais persiste: o ministro Márcio França (Portos e Aeroportos) anunciou um programa de passagens aéreas a R$ 200 para, em seguida, o Palácio do Planalto pedir mais tempo para avaliá-lo; o titular da Previdência, Carlos Lupi, tratou da redução de juros do crédito consignado para aposentados, medida depois suspensa em meio a reações dos bancos. Em um encontro com ministros, Lula ordenou que assuntos de impacto sejam debatidos com a Casa Civil antes de tornados públicos.
Dias antes do lançamento do site BrasilContraFake, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, já havia enfrentado críticas por questionar a formação de uma jornalista durante uma entrevista à CNN Brasil, o que foi visto como uma tentativa de desqualificá-la.
Outro atrito com a imprensa ocorreu em janeiro, quando a pasta divulgou uma nota em que classificou uma foto de Lula feita com a técnica de múltipla exposição, publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo”, como “imagem não jornalística”. A foto fazia uma sobreposição do rosto do presidente e um vidro estilhaçado.
A comunicação do governo também acumula episódios em que houve acusação de uso político de sua estrutura institucional. No início do mês, a transmissão de uma live da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, por perfis na internet da TV Brasil, emissora pública controlada pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), gerou debate sobre se a iniciativa era adequada ao propósito da emissora.
No mesmo período, perfis da Secom foram usados para ironizar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em meio ao caso das joias presenteadas pelo governo da Arábia Saudita. Uma campanha publicitária para a declaração do Imposto de Renda, por exemplo, trazia a frase “E aí, tudo joia?” acompanhada de uma ilustração do leão do IR.
Em nota, a Secom afirmou que o site BrasilContraFake é uma campanha de comunicação institucional e não uma agência de checagem, mas não explicou por que foi apresentada assim no perfil de Lula. Em relação à fala de Pimenta sobre a jornalista, afirmou que, na democracia, “questionamentos e debates são normais”. Já sobre a live de Janja nos perfis da TV Brasil, a Secom defendeu que teve “caráter de interesse público” e está no escopo do que prevê a lei.
Fonte: O GLOBO
A comunicação do governo também acumula episódios em que houve acusação de uso político de sua estrutura institucional. No início do mês, a transmissão de uma live da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, por perfis na internet da TV Brasil, emissora pública controlada pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), gerou debate sobre se a iniciativa era adequada ao propósito da emissora.
No mesmo período, perfis da Secom foram usados para ironizar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em meio ao caso das joias presenteadas pelo governo da Arábia Saudita. Uma campanha publicitária para a declaração do Imposto de Renda, por exemplo, trazia a frase “E aí, tudo joia?” acompanhada de uma ilustração do leão do IR.
Em nota, a Secom afirmou que o site BrasilContraFake é uma campanha de comunicação institucional e não uma agência de checagem, mas não explicou por que foi apresentada assim no perfil de Lula. Em relação à fala de Pimenta sobre a jornalista, afirmou que, na democracia, “questionamentos e debates são normais”. Já sobre a live de Janja nos perfis da TV Brasil, a Secom defendeu que teve “caráter de interesse público” e está no escopo do que prevê a lei.
Fonte: O GLOBO
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