A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro passou a segunda-feira após a revelação do escândalo das joias sauditas apreendidas pela Receita Federal fechada na sede do PL, em Brasília, debatendo com os militares e outros aliados do marido a melhor forma de reagir à crise.
Um dos que acompanharam Michelle no PL ao longo do dia foi o ex-ministro da Defesa e ex candidato a vice de Bolsonaro, Walter Braga Netto, que dá expediente no partido com assessores também militares. À distância, o ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro Fabio Wajngarten sugeria iniciativas visando divulgar a versão dos Bolsonaro sobre o caso.
Embora a ex-primeira dama tenha sido aconselhada inicialmente por lideranças do PL a submergir para esperar a crise arrefecer, ao longo do dia várias ideias foram sendo testadas – algumas das quais incluíam uma participação maior da primeira-dama na resposta pública às questões que surgiram após a revelação do episódio pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
Michelle não estava na comitiva do ministro das Minas e Energia que trouxe de uma viagem oficial à Arábia Saudita um conjunto de joias avaliado em 3 milhões de euros, em outubro de 2021. Mas, por ser supostamente a destinatária do presente, ela acabou sendo envolvida no caso.
Até agora, sua única declaração sobre o episódio foi publicada nas redes sociais. “Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa (sic) vexatória”, escreveu no Instagram.
Por isso, segundo interlocutores de Michelle, uma das ideias discutidas a portas fechadas foi a possibilidade de ela dar entrevista a um veículo de imprensa para marcar posição.
As poucas lideranças do PL sondadas a respeito foram contra, diante da avaliação de que qualquer atitude mais enfática poderia colocar no colo da ex-primeira dama uma crise que, por enquanto, ainda é mais ligada ao próprio Bolsonaro.
Procurado, porém, Wajngarten afirmou que a única entrevista programada para Michelle seria sobre “o dia a dia dela” e não havia nada previsto sobre as joias.
Além de o ex-ministro Bento Albuquerque ter pedido a liberação das joias apreendidas à Receita, foi o ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, quem enviou ofício e solicitou com “urgência” avião da FAB para transportar um servidor do Planalto até Guarulhos para tentar reaver os diamantes pessoalmente.
Ao final do dia, circulou a informação de que Michelle consultaria um advogado para pedir à Receita Federal que devolva as joias à Arábia Saudita, como forma de demonstrar que não tem nenhuma relação com o caso. Contudo, não houve iniciativa concreta nesse sentido.
Outra ideia cogitada no núcleo bolsonarista do PL foi que o presidente fizesse uma live em tom enérgico, semelhante ao adotado em outros momentos de crise — como quando Bolsonaro se defendeu após dizer que “pintou um clima” com meninas venezuelanas que visitou nos arredores de Brasília.
Ou ainda quando chamou o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, de “patife” e “moleque” após o ministro determinar a quebra de sigilo de Mauro Cid, em uma investigação sobre o vazamento de um inquérito que apurava a atuação de um hacker no TSE.
Mas a iniciativa também não vingou, e Wajngarten inclusive nega que ela tenha sido discutida.
Por enquanto, a única movimentação mais ostensiva tem sido a do próprio Wajngarten, que vem postando em suas redes sociais documentos internos do governo relacionados ao caso.
Um deles é um ofício em que o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, pede à Receita que avalie a possibilidade de liberar as joias e objetos "e dar a destinação adequada".
No fim do dia, a Polícia Federal decidiu abrir um inquérito para investigar o caso na Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários, o que complicou ainda mais a gestão da crise para os Bolsonaro.
Entre os aliados do presidente, a reação ao episódio ainda é de perplexidade. “Essa é uma história com muita repercussão e muito problemática para dar qualquer tipo de opinião”, resume um influente interlocutor de Bolsonaro.
As idas e vindas de Michelle nos bastidores mostram que não foi só no entorno de Bolsonaro que o caso provocou desorientação. No núcleo duro, aparentemente ninguém sabe ao certo qual rumo tomar.
Fonte: O GLOBO
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