Agenda ajudou a acalmar os ânimos com a base depois de gestos em direção contrária
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo almoçou no bandejão do Palácio dos Bandeirantes junto a outros funcionários do governo e teve uma reunião fora da agenda com o governador na segunda-feira. Na mesma mesa, sentaram Salles, o deputado estadual bolsonarista Gil Diniz (PL), conhecido como "Carteiro Reaça", e o vereador de São Bernardo do Campo Paulo Chuchu (PRTB).
A conversa tratou de um eventual apoio de Tarcísio à candidatura de Salles à prefeitura de São Paulo. Pessoas que estavam presentes na reunião afirmaram ao GLOBO que o governador se mostrou disposto a estar ao lado do deputado no ano que vem, mas desde que a sua candidatura se viabilize. Caso contrário, disse ele, terá de apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes, do MDB.
O ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro desponta como o principal nome da direita para disputar a eleição municipal paulistana, mas como mostrou o GLOBO, ainda não há um consenso sobre a candidatura dentro do PL, já que uma ala do diretório municipal é ligada a Nunes. Interlocutores de Tarcísio defendem que ele se posicione sobre a questão só no ano que vem e leve em consideração a avaliação de Nunes nos meses que antecedem a campanha eleitoral. Como Tarcísio mantém parcerias com o prefeito de São Paulo, a exemplo do plano para a Cracolândia, apoiar Salles poderia fechar portas com a gestão municipal.
Pautas e queixas
Ainda na segunda-feira, o governador esteve com deputados estaduais para discutir uma proposta de cobrança de impostos diferenciada a armas e munições, pauta da bancada bolsonarista e de parlamentares ligados à questão armamentista. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), prometeu estudar o tema. Além da demanda tributária, Tarcísio ouviu queixas de integrantes do Legislativo, que cobraram por uma maior participação na gestão estadual. Os deputados têm reclamado desde o início do governo sobre a falta de diálogo com o governador.
Depois da reunião com Tarcísio, Eduardo Bolsonaro participou da "Semana Una-se, Mulher", primeiro evento promovido pela secretária de Políticas para a Mulher, Sonaira Fernandes (Republicanos), cuja gestão patinou nos primeiros meses de governo. No evento, marcado por críticas ao aborto, Eduardo relembrou a trajetória de Sonaira, que foi estagiária na época em que ele era escrivão da PF.
Acenos à esquerda irritam a base
Enquanto o bolsonarismo raiz sobrevive no estado de São Paulo apoiado em figuras de secretários como Sonaira e Derrite, Tarcísio tem governado ao lado da esquerda, muitas vezes de forma até literal, como quando dividiu o palco com Lula para anunciar medidas de apoio aos atingidos pelas chuvas no Litoral Norte paulista.
Não foi a única situação. O ex-ministro da Infraestrutura irritou aliados da direita bolsonarista ao liberar medicamentos à base de cannabis no SUS do estado, num evento de sanção que ocorreu no Palácio dos Bandeirantes e contou com a presença de parlamentares do PSB e do PSOL, incluindo Caio França (PSB), filho do ministro de Portos e Aeroportos do Brasil, Márcio França (PSB).
Outro aceno à esquerda que incomodou foi a liberação da feira da reforma agrária no Parque da Água Branca, Zona Oeste da capital. Organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o evento havia sido vetado pelo ex-governador tucano João Doria.
Na Alesp, o estreitamento das relações com a esquerda tem sido capitaneado pelo secretário de Governo, Gilberto Kassab. O presidente do PSB fez reuniões com a bancada petista e se comprometeu a liberar emendas impositivas que não foram pagas pelo ex-governador Rodrigo Garcia, do PSDB.
A semana bolsonarista de Tarcísio ajudou a acalmar os ânimos com a base depois de tantos gestos em direção contrária. Na quinta-feira, o governador recebeu o ex-ministro da Defesa, Braga Netto, de quem era colega no governo Bolsonaro. Braga Netto está à frente da secretaria nacional de Relações Institucionais do PL e fez um giro por São Paulo para tratar da expansão na legenda nas eleições municipais. Com o governador, ele conversou sobre a eleição municipal, mas principalmente sobre o apoio da bancada do PL, a maior da Alesp, a projetos do governo.
O tom foi o mesmo na reunião com lideranças do PP, na sexta-feira. Junto ao presidente da legenda e ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira, a senadora Tereza Cristina (MS) e o deputado estadual Delegado Olim, Tarcísio discutiu sobre o apoio do PP à sua gestão. Embora tenha apoiado a candidatura do ex-ministro, a sigla tem participação ínfima na gestão. Segundo auxiliares de Tarcísio, não foi fechado, porém, nenhum acordo para que o PP fique com cargos em troca de apoio.
Fonte: O GLOBO
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