Assassinato de jornalista, perseguição a mulheres, proibição de igrejas: conheça o ditador árabe que deu joias a Bolsonaro

Assassinato de jornalista, perseguição a mulheres, proibição de igrejas: conheça o ditador árabe que deu joias a Bolsonaro

Mohamed bin Salman é o primeiro na linha de sucessão do trono e foi nomeado primeiro-ministro, cargo tradicionalmente exercido pelo rei, em setembro

O governo de Jair Bolsonaro tentou entrar no país ilegalmente com jóias avaliadas em aproximadamente R$ 16,5 milhões em outubro de 2021. As pedras preciosas seriam um presente da Arábia Saudita, liderada pelo ditador Mohamed bin Salman, à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Aos 37 anos, o príncipe herdeiro é alvo de inúmeras denúncias, entre elas a de mandar esquartejar um jornalista dissidente, intolerância religiosa e de impor um apartheid contra mulheres e homossexuais.

Salman é o primeiro na linha de sucessão do trono e foi nomeado primeiro-ministro, cargo tradicionalmente exercido pelo rei, que sofre da doença de Alzheimer, em setembro do ano passado. Anteriormente, ele atuou como vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa.

Um relatório da Inteligência dos Estados Unidos sobre o assassinato Jamal Khashoggi, divulgado em 2021, concluiu que Mohamed bin Salman aprovou uma operação para “capturara ou matar o jornalista”. Jamal desapareceu no dia 2 de outubro de 2018, depois que entrou no consulado saudita em Istambul. A Arábia Saudita indicou que ele foi morto “durante uma luta”.

Khashoggi vem de uma família conhecida no país e morava nos EUA, desde 2017, por uma questão de segurança. Ele escrevia colunas para o The Washington Post e havia lançado projetos para consolidar a oposição ao regime saudita, com propaganda e pressão por reformas. O jornalista foi estrangulado por um esquadrão de 15 assassinos sauditas e teve o corpo desmembrado e descartado.

“O príncipe herdeiro via Khashoggi como uma ameaça ao país e apoiava de modo geral o uso de medidas violentas, se necessário, para silenciá-lo”, aponta o documento.

Bombardeios no Iêmen:

Em 2018, um grupo de defesa dos direitos humanos iemenita processou o autocrata por cumplicidade em tortura e tratamento desumano no país. A queixa afirma que o príncipe e então ministro da Defesa da Arábia Saudita foi responsável pelos vários ataques aéreos que atingiram e mataram civis.

"Ele ordenou os primeiros ataques no território iemenita em 25 de março de 2015", disseram os advogados do grupo, Joseph Breham e Hakim Chergui. "A existência de bombardeios indiscriminados pelas forças armadas da coalizão que afetam as populações civis no Iêmen pode ser qualificada como atos de tortura".

O governo da Arábia Saudita liderado por Mohamed bin Salman também é constantemente acusado de apoiar grupos jihadistas, mas permanece como aliado do Ocidente.

Perseguição religiosa e contra minorias:

A monarquia absolutista da Arábia Saudita tem uma população quase inteiramente islâmica. O país não possui liberdade religiosa e a conversão ao cristianismo é proibida por lei. Caracterizado como crime de “apsotasia”, o cidadão pode ser punido com pena de morte. Os cristãos são proibidos de se expressar livremente até mesmo dentro das casas, que são inspecionadas pela polícia da fé. Sinais de culto podem causar a expulsão do país.

A rígida sociedade saudita também oprime as mulheres, que são monitoradas de perto. Durante o patrulhamento e perseguição contra cristãos, elas encontram-se mais vulneráveis, uma vez que, culturalmente, precisariam manter uma boa reputação da família. Um mau comportamento pode prejudicar a honra e é considerado um pecado mortal.

Mulheres sauditas não têm permissão para deixar suas casas sem companhia familiar masculina e correm risco de sofrer abuso físico e sexual. Esse comportamento está relacionado à posição subordinada feminina na sociedade saudita e sua condição desprotegida quando estão sozinhas.

A perseguição contra pessoas da comunidade LGBTQIA + no país é outro ponto denunciado. A lei estabelece pena de morte para os atos sexuais consensuais entre pessoas do mesmo sexo.

Impedimento de encontros familiares:

Em depoimentos ao canal de notícias norte-americano NBC News, 14 funcionários da inteligência dos EUA alegaram que o príncipe herdeiro havia proibido a própria mãe de encontrar o pai, que é rei do país e sofre de Alzheimer, por medo que ela atrapalhasse a sua consolidação no poder.

Mohamed impediu sua mãe, a princesa Fahda bint Falah Al Hathleen, de entrar em contato com o rei Salman por mais de dois anos e pode até tê-la mantido em prisão domiciliar em um palácio real, informou a NBC News.

O governo Bolsonaro tentou trazer joias doadas pela Arábia Saudita, avaliadas em 3 milhões de euros, o equivalente a aproximadamente R$ 16,5 milhões, de forma ilegal. O episódio, revelado pelo jornal Estado de S. 

Paulo nesta sexta-feira, aconteceu em outubro de 2021 e envolveu várias tentativas subsequentes de liberar os itens da alfândega no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, onde o material acabou apreendido por não ter sido devidamente declarado.

Um conjunto com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamante estava na mochila de um militar, assessor do então ministro Bento Albuquerque. O titular das Minas e Energia voltava, na ocasião, de uma viagem pelo Oriente Médio. 

Ainda de acordo com o jornal, ao saber que as joias haviam sido apreendidas, Albuquerque retornou à área da alfândega e tentou, ele próprio, retirar os itens, informando que se trataria de um presente pessoal para Michelle.

A cena foi registrada pelas câmeras de segurança do local. A legislação brasileira impõe, contudo, que é obrigatório declarar qualquer bem avaliado em mais de mil dólares (pouco mais de R$ 5 mil) na chegada ao país. Procurado pelo Estadão, Bento Albuquerque confirmou o relato, mas alegou que desconhecia o que estava dentro do pacote fechado transportado pelo assessor. "Nenhum de nós sabia o que eram aquelas caixas", disse ao jornal.

O ex-ministro disse ao GLOBO que as joias foram 'incorporadas ao acervo oficial brasileiro', mas não explicou apreensão pela Receita. A ex-primeira-dama negou que seja dona das joias: 'Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo?'

O Estadão relata que a gestão Bolsonaro tentou reaver o material em pelo menos quatro ocasiões, escalando na missão militares e diferentes ministérios. Em 3 de novembro de 2021, coube ao Itamaraty exercer pressão sobre a Receita Federal na busca pelas joias. 

O Ministério das Releções Exteriores pediu ao órgão fiscal que tomasse as "providências necessárias para liberação dos bens retidos", mas a Receita retrucou que só seria possível fazer a retirada mediante os procedimentos de praxe nestes casos, com quitação da multa e do imposto devidos. Em seguida, a própria chefia da Receita entrou em campo para liberar o material, mas os servidores do órgão mantiveram-se firmes.

Nessas situações, só é possível resgatar o item apreendido pagando um tributo equivalente a 50% do valor estimado do material. Além disso, também é cobrada uma multa de 25% sobre o valor cheio. No caso das joias para Michelle, portanto, a soma chegaria a aproximadamente R$ 12,3 milhões.

O governo Bolsonaro também poderia ter informado oficialmente de antemão se tratar de um presente para Michelle ou para o casal. Neste caso, não seria cobrado qualquer imposto, mas as joias seriam tratadas como propriedade do Estado brasileiro.

A tentativa derradeira de recuperar o mimo milionário dos sauditas veio nos últimos dias de Bolsonaro na Presidência da República, em 29 de dezembro — véspera da viagem do ex-chefe do Executivo para os Estados Unidos, onde ele permanece até hoje. 

Chefe da Ajudância de Ordens do presidente, o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva seguiu para Guarulhos para "atender demandas" de Bolsonaro, conforme consta na solicitação de voo da Força Aérea Brasileira (FAB) descrita pelo Estadão.


Fonte: O GLOBO

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