Sem emplacar aliado em ministério, Paes distribui alfinetadas no governo Lula

Sem emplacar aliado em ministério, Paes distribui alfinetadas no governo Lula

Prefeito do Rio vive relação de morde e assopra com PT e aposta em aliança com presidente para reeleição em 2024

Ainda sem conseguir emplacar aliados de seu grupo político no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), vem usando suas redes sociais para distribuir alfinetadas na administração do PT. 

Ele já disparou contra a escolha do governo para a direção dos hospitais federais do Rio; fez duras críticas ao secretário do Ministério da Fazenda Bernard Appy; e trocou farpas com o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Após oferecer palanque para Lula no Rio e fazer atos de campanha nas eleições, Paes participou da costura da aliança nacional entre PSD e PT. 

Ele ainda abriu seu secretariado para indicações petistas. A expectativa no PSD era ganhar um naco no governo federal para preencher. O plano previa indicar o braço-direito do prefeito, o deputado federal Pedro Paulo (PSD), para uma vaga na Esplanada dos Ministérios.

Porém, o projeto foi por água abaixo após o nome ser barrado. O veto, segundo interlocutores, partiu da primeira dama Janja da Silva. O motivo foi a acusação antiga de violência doméstica envolvendo Pedro Paulo. O caso já foi arquivado pela Justiça por falta de provas, mas gerou um desgaste persistente em sua imagem política.

Ex-secretário de Fazenda de Paes, Pedro Paulo foi cotado principalmente para o Ministério do Turismo. Além da indicação do prefeito carioca, ele também contava com a benção do presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o endosso unânime da bancada do partido na Câmara dos Deputados. Porém, nada disso adiantou.

Desde então, Paes acumulou estresses com o Planalto e usou suas redes para lavar roupa suja. A última troca de farpas foi com o presidente da Petrobras Jean Paul Prates. 

O desentendimento começou após o alcaide ironizar a participação de Prates num evento na sede da empresa no Centro do Rio, que vem funcionamento num esquema de trabalho híbrido. Crítico do esvaziamento da região por grandes empresas, Paes cobra a volta ao trabalho presencial para revitalizar a área.

Ironias nas redes

Prates rebateu a ironia e lembrou os alagamentos na cidade que causaram o entupimento de bueiros na região. O prefeito retrucou e sugeriu uma auditoria, pois os gastos com a sede incluíam drenagem na área. Posteriormente, Paes printou o debate e ironizou: "Governo estranho. Até elogio nega. Eu hein". Porém, horas depois, ele apagou a postagem.

Uma semana antes ele havia usado suas redes sociais para fazer duras críticas ao secretário do Ministério da Fazenda para a reforma tributária, Bernard Appy. O motivo foram declarações do economista sobre uma possível mudança no Imposto Sobre Serviços (ISS) arrecadado pelas prefeituras.

“E eu pensando que tinha votado (em Lula) contra o autoritarismo. Nada pode ser pior no mundo do que ‘técnico’ autoritário’”, escreveu Paes.

Ainda no início desse mês, o prefeito carioca também demonstrou insatisfação com a escolha de Alexandre Telles, atual presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, pelo governo Lula para comandar a gestão dos hospitais federais no estado. Em suas redes, ele tentou desqualificar a nomeação de Telles para a função.

"Indicação técnica? Qualificado para a missão? Ouvi o presidente @LulaOficial dizendo coisa diferente sobre essa missão", publicou Paes.

Entre opositores, a crítica foi lida como uma insatisfação pessoal de Paes com Telles, que é ligado a sindicatos, movimentos sociais e esteve presente em organizações de greves e manifestações de profissionais da saúde contra a prefeitura.

Apesar das estocadas no governo federal, Paes mantém sua proximidade e afinidade com Lula como um importante ativo político. Recentemente, em um lançamento de obra da prefeitura que teve a presença do presidente como convidado, ele rasgou elogios ao petista e puxou um coro de "Viva Lula!

De olho em pavimentar o caminho para sua reeleição e quarto mandato como prefeito do Rio em 2024, ele selou uma aliança com o PT na capital fluminense e abriu três secretarias para o partido.

Aliança para 2024

Seu cálculo político é que ele deve enfrentar um candidato bolsonarista no próximo pleito. Com a estratégia de nacionalizar a eleição do Rio — que é o berço do bolsonarismo — Paes acomodou em seu governo ainda outras siglas da base de Lula. Ele nomeou na prefeitura quadros do PSB, PDT e União Brasil para tentar assegurar o apoio das legendas para sua reeleição.

Entre seus possíveis adversários estão o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro; os generais da reserva e ex-ministros de Bolsonaro, Walter Braga Netto e Eduardo Pazuello; o senador Carlos Portinho (PL-RJ); além do nome preferido pelo governador Cláudio Castro (PL), o atual secretário estadual de Saúde, Doutor Luizinho (PP).

A movimentação de Paes é lida ainda como uma forma de traçar uma linha no chão delimitando até onde vai sua abertura para ceder espaços para o PT. Uma das reivindicações dos petistas é a vaga de vice em sua na chapa de 2024.

Porém, segundo interlocutores, Paes tem mostrado intransigência em negociar postos-chave com nomes de fora de sua patota política. A aposta é que ele dificilmente abrirá mão de ter Pedro Paulo ou outro aliado de primeira hora como vice, já que pode deixar a prefeitura em 2026 para disputar o governo do estado.

Em sua relação de morde e assopra com o PT, Paes joga ainda com as divisões internas do partido. No Rio, ele é muito próximo da ala mais pragmática do partido, que tem como expoente o deputado federal Washington Quaquá (PT), principal articulador da aliança com o prefeito. 

Por outro lado, lideranças como o deputado federal Lindbergh Farias (PT), da turma mais à esquerda no partido, preferem que o PT apresente um candidato em 2024 ou apoie outro nome do campo, como o vereador Tarcísio Motta (PSOL).


Fonte: O GLOBO

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