Presidente Biden conclama participação nas eleições de novembro como forma de garantir direito via Congresso, e parlamentares e ativistas já se mobilizam para levar eleitores às urnas
Porto Velho, RO — A possibilidade de que o direito ao aborto nos EUA seja revertido na Suprema Corte fez com que ativistas, políticos e integrantes da sociedade civil se unissem nesta terça-feira em Washington em tom de alerta, soado pelo presidente Joe Biden ao conclamar todos a votarem nas eleições legislativas de novembro.
Biden disse em comunicado que se o mais alto tribunal derrubar a jurisprudência que fundou o direito ao aborto nos EUA, “caberá às autoridades eleitas de nossa nação em todos os níveis de governo proteger o direito de escolha da mulher. E caberá aos eleitores escolher autoridades pró-direito ao aborto em novembro”.
Nesse caso, o presidente disse que “trabalharia para aprovar e sancionar” tal legislação, mas reconheceu a realidade de que as condições não são adequadas com um Senado dividido hoje igualmente entre democratas e republicanos.
As palavras do presidente encontraram eco em protestos diante da Suprema Corte, onde, além de críticas a setores conservadores da sociedade americana, os discursos coincidiram sobre a necessidade de uma ação urgente visando as eleições de meio mandato, em novembro, consideradas cruciais para a definição da pauta do direito reprodutivo nos próximos anos.
— É o grande despertar da população americana — disse o senador democrata Chris Van Hollen, de Maryland, que classificou o momento como “definidor”.
O congressista falou de um palco montado em frente à Suprema Corte e se juntou a protestos organizados por diversos movimentos feministas e pró-aborto, como a National Women’s Law. A representante da organização, Leila Abolfazli, disse ao GLOBO que desde que um esboço da decisão da Suprema Corte foi vazado na noite de segunda, ela se empenhou em disparar e-mails e mensagens convocando manifestantes a se mobilizarem.
Segundo ela, as manifestações devem seguir em curso pelas próximas seis semanas. A expectativa é de que a decisão final da Corte saia durante o verão no Hemisfério Norte.
‘Eles não vão parar’
Um grupo formado por uma maioria feminina, mas diversa em origem étnica e de idade, ocupou grande parte da manhã e da tarde na rua que separa os prédios onde são tomadas as decisões máximas do Poder Legislativo e Judiciário dos EUA.
— Está é a agenda republicana. Eles não vão parar com Roe [caso Roe vs Wade]. Eles não vão parar até que consigam reverter a geração de direitos progressistas que nós conquistamos. Eles são a minoria, a maioria dos americanos não apoia esta agenda — discursou Shaunna Thomas, cofundadora da Ultraviolet, uma organização que luta pelos direitos femininos.
Thomas enfatizou em seu discurso o fato de que, segundo as pesquisas de opinião, a maioria é favorável ao direito da mulher de escolher interromper ou não legalmente uma gravidez.
— Nós, a maioria, temos de ter certeza de que nossas vozes serão ouvidas em novembro [nas eleições de meio de mandato]. Nós podemos eleger autoridades que vão corrigir nossa Suprema Corte — disse, classificando a instituição de “quebrada” e “enviesada”.
O momento de polarização da sociedade americana foi lembrado a todo tempo entre falas que faziam apelos sobre a importância de que as mulheres possam ter direito a decidir sobre a continuidade ou não de uma gravidez.
“Abortos salvam vidas”, “Mantenham as proibições longe dos nossos corpos” e “Aborto é um tema de saúde” eram frases que marcavam cartazes, bandanas e camisetas dos manifestantes.
Outro congressista a participar do ato foi Brad Sherman, deputado democrata pela Califórnia. Ele destacou a importância das eleições de novembro, que renovarão toda a Câmara dos Deputados e parte do Senado.
Sherman disse que muito dificilmente a composição atual do Senado — dividido igualmente com 50 integrantes de cada partido, com voto de Minerva da vice-presidente Kamala Harris — poderia aprovar uma lei para garantir o aborto. Para ele, será necessária uma nova tentativa, em janeiro de 2023, com a nova composição do Congresso.
— Fui um voluntário da base há muito tempo pedindo que as pessoas fossem votar — disse Sherman ao GLOBO. — As eleições têm consequências, e isso não afeta apenas quem se importa com política, mas a todos no país.
Católicos pelo aborto
Entre os manifestantes estavam também representantes religiosos, como Jamie Manson, presidente da ONG Catholics for Choice (Católicos pela escolha, na tradução do inglês) que, como o nome sugere, representa pessoas católicas favoráveis ao aborto. Manson disse ao GLOBO que o pensamento antiaborto não tem fundamento religioso, mas, sim, político dentro da Igreja Católica, e é usado para dar espaço a uma agenda conservadora.
— Como [o movimento antiaborto] é um movimento religioso, você precisa ter vozes religiosas falando sobre o assunto. Eu sei qual é a minha fé. Posso falar essa mesma língua — disse.
Segundo a ativista, pesquisas da instituição à qual ela é vinculada mostram que 68% dos católicos não querem ver a Roe vs Wade derrubada. Para as eleições deste ano, Manson diz que seu trabalho será fazer uma conscientização de que este é um problema de toda sociedade americana.
— Não se trata apenas de algumas mulheres em alguns estados. Os direitos de todo mundo estão sendo destruídos agora. Os brancos cristãos estão tomando conta da agenda de todo este país e forçando leis por motivações religiosas que são contra as leis civis. Isso é real, isso está acontecendo. Da última vez que fizeram uma pesquisa, nós vimos que apenas 30% das pessoas são contra [Roe vs Wade]. Eu espero que 70% da população se deem conta do quanto isso é sério.
Uma das pessoas a discursar foi a ginecologista Jamila Perritt, que é presidente da Associação de Médicos para a Saúde Reprodutiva.
Ao GLOBO, ela disse que as eleições têm total papel nas decisões da Suprema Corte.
— Nós sabemos que os juízes da Suprema Corte são nomeados pelo presidente, o presidente é eleito pelo povo. Essas coisas estão profundamente conectadas. Então temos de organizar nossa comunidade, ter certeza de que as pessoas saiam de casa e votem e também ter certeza de que há apoio para os direitos ao aborto que são garantidos atualmente.
Biden disse em comunicado que se o mais alto tribunal derrubar a jurisprudência que fundou o direito ao aborto nos EUA, “caberá às autoridades eleitas de nossa nação em todos os níveis de governo proteger o direito de escolha da mulher. E caberá aos eleitores escolher autoridades pró-direito ao aborto em novembro”.
Nesse caso, o presidente disse que “trabalharia para aprovar e sancionar” tal legislação, mas reconheceu a realidade de que as condições não são adequadas com um Senado dividido hoje igualmente entre democratas e republicanos.
As palavras do presidente encontraram eco em protestos diante da Suprema Corte, onde, além de críticas a setores conservadores da sociedade americana, os discursos coincidiram sobre a necessidade de uma ação urgente visando as eleições de meio mandato, em novembro, consideradas cruciais para a definição da pauta do direito reprodutivo nos próximos anos.
— É o grande despertar da população americana — disse o senador democrata Chris Van Hollen, de Maryland, que classificou o momento como “definidor”.
O congressista falou de um palco montado em frente à Suprema Corte e se juntou a protestos organizados por diversos movimentos feministas e pró-aborto, como a National Women’s Law. A representante da organização, Leila Abolfazli, disse ao GLOBO que desde que um esboço da decisão da Suprema Corte foi vazado na noite de segunda, ela se empenhou em disparar e-mails e mensagens convocando manifestantes a se mobilizarem.
Segundo ela, as manifestações devem seguir em curso pelas próximas seis semanas. A expectativa é de que a decisão final da Corte saia durante o verão no Hemisfério Norte.
‘Eles não vão parar’
Um grupo formado por uma maioria feminina, mas diversa em origem étnica e de idade, ocupou grande parte da manhã e da tarde na rua que separa os prédios onde são tomadas as decisões máximas do Poder Legislativo e Judiciário dos EUA.
— Está é a agenda republicana. Eles não vão parar com Roe [caso Roe vs Wade]. Eles não vão parar até que consigam reverter a geração de direitos progressistas que nós conquistamos. Eles são a minoria, a maioria dos americanos não apoia esta agenda — discursou Shaunna Thomas, cofundadora da Ultraviolet, uma organização que luta pelos direitos femininos.
Thomas enfatizou em seu discurso o fato de que, segundo as pesquisas de opinião, a maioria é favorável ao direito da mulher de escolher interromper ou não legalmente uma gravidez.
— Nós, a maioria, temos de ter certeza de que nossas vozes serão ouvidas em novembro [nas eleições de meio de mandato]. Nós podemos eleger autoridades que vão corrigir nossa Suprema Corte — disse, classificando a instituição de “quebrada” e “enviesada”.
O momento de polarização da sociedade americana foi lembrado a todo tempo entre falas que faziam apelos sobre a importância de que as mulheres possam ter direito a decidir sobre a continuidade ou não de uma gravidez.
“Abortos salvam vidas”, “Mantenham as proibições longe dos nossos corpos” e “Aborto é um tema de saúde” eram frases que marcavam cartazes, bandanas e camisetas dos manifestantes.
Outro congressista a participar do ato foi Brad Sherman, deputado democrata pela Califórnia. Ele destacou a importância das eleições de novembro, que renovarão toda a Câmara dos Deputados e parte do Senado.
Sherman disse que muito dificilmente a composição atual do Senado — dividido igualmente com 50 integrantes de cada partido, com voto de Minerva da vice-presidente Kamala Harris — poderia aprovar uma lei para garantir o aborto. Para ele, será necessária uma nova tentativa, em janeiro de 2023, com a nova composição do Congresso.
— Fui um voluntário da base há muito tempo pedindo que as pessoas fossem votar — disse Sherman ao GLOBO. — As eleições têm consequências, e isso não afeta apenas quem se importa com política, mas a todos no país.
Católicos pelo aborto
Entre os manifestantes estavam também representantes religiosos, como Jamie Manson, presidente da ONG Catholics for Choice (Católicos pela escolha, na tradução do inglês) que, como o nome sugere, representa pessoas católicas favoráveis ao aborto. Manson disse ao GLOBO que o pensamento antiaborto não tem fundamento religioso, mas, sim, político dentro da Igreja Católica, e é usado para dar espaço a uma agenda conservadora.
— Como [o movimento antiaborto] é um movimento religioso, você precisa ter vozes religiosas falando sobre o assunto. Eu sei qual é a minha fé. Posso falar essa mesma língua — disse.
Segundo a ativista, pesquisas da instituição à qual ela é vinculada mostram que 68% dos católicos não querem ver a Roe vs Wade derrubada. Para as eleições deste ano, Manson diz que seu trabalho será fazer uma conscientização de que este é um problema de toda sociedade americana.
— Não se trata apenas de algumas mulheres em alguns estados. Os direitos de todo mundo estão sendo destruídos agora. Os brancos cristãos estão tomando conta da agenda de todo este país e forçando leis por motivações religiosas que são contra as leis civis. Isso é real, isso está acontecendo. Da última vez que fizeram uma pesquisa, nós vimos que apenas 30% das pessoas são contra [Roe vs Wade]. Eu espero que 70% da população se deem conta do quanto isso é sério.
Uma das pessoas a discursar foi a ginecologista Jamila Perritt, que é presidente da Associação de Médicos para a Saúde Reprodutiva.
Ao GLOBO, ela disse que as eleições têm total papel nas decisões da Suprema Corte.
— Nós sabemos que os juízes da Suprema Corte são nomeados pelo presidente, o presidente é eleito pelo povo. Essas coisas estão profundamente conectadas. Então temos de organizar nossa comunidade, ter certeza de que as pessoas saiam de casa e votem e também ter certeza de que há apoio para os direitos ao aborto que são garantidos atualmente.
Fonte: O GLOBO