Militares de Mianmar cometeram vários massacres de civis em julho de 2021. Ao menos 40 pessoas foram mortas, aponta uma investigação da BBC.
Porto Velho, RO - Testemunhas oculares e sobreviventes disseram à reportagem que soldados, alguns com apenas 17 anos, cercaram aldeões, isolaram os homens e os mataram. Imagens e vídeos dos casos parecem indicar que a maioria dos mortos foi torturada primeiro e, depois de morta, enterrada em covas rasas.
As mortes ocorreram em julho passado, em quatro eventos separados no município de Kani, considerado um reduto da oposição no distrito de Sagaing, no centro de Mianmar.
Os militares vêm enfrentando resistência de grupos civis desde que tomaram o controle do país por meio de um golpe em fevereiro de 2021, depondo um governo eleito democraticamente que era liderado por Aung San Suu Kyi.
A BBC conversou com 11 testemunhas em Kani e comparou seus relatos com imagens de celulares e fotografias coletadas pela Myanmar Witness, uma ONG com sede no Reino Unido que investiga abusos de direitos humanos no país do Sudeste Asiático.
O pior massacre ocorreu na vila de Yin, onde pelo menos 14 homens foram torturados e espancados até a morte. Depois, os corpos deles foram jogados em um barranco na mata.
Testemunhas em Yin, cujas identidades foram ocultadas a fim de protegê-las, disseram à BBC que as vítimas foram amarradas e agredidas antes de serem mortas.
Porto Velho, RO - Testemunhas oculares e sobreviventes disseram à reportagem que soldados, alguns com apenas 17 anos, cercaram aldeões, isolaram os homens e os mataram. Imagens e vídeos dos casos parecem indicar que a maioria dos mortos foi torturada primeiro e, depois de morta, enterrada em covas rasas.
As mortes ocorreram em julho passado, em quatro eventos separados no município de Kani, considerado um reduto da oposição no distrito de Sagaing, no centro de Mianmar.
Os militares vêm enfrentando resistência de grupos civis desde que tomaram o controle do país por meio de um golpe em fevereiro de 2021, depondo um governo eleito democraticamente que era liderado por Aung San Suu Kyi.
A BBC conversou com 11 testemunhas em Kani e comparou seus relatos com imagens de celulares e fotografias coletadas pela Myanmar Witness, uma ONG com sede no Reino Unido que investiga abusos de direitos humanos no país do Sudeste Asiático.
O pior massacre ocorreu na vila de Yin, onde pelo menos 14 homens foram torturados e espancados até a morte. Depois, os corpos deles foram jogados em um barranco na mata.
Testemunhas em Yin, cujas identidades foram ocultadas a fim de protegê-las, disseram à BBC que as vítimas foram amarradas e agredidas antes de serem mortas.
"Não aguentávamos mais assistir. Então, ficamos apenas de cabeça baixa, chorando", disse uma mulher que perdeu irmão, sobrinho e cunhado em um dos massacres. "Imploramos para que não fizessem isso. Mas eles não se importaram. E disseram às mulheres: 'Seus maridos estão entre eles? Se estiverem, façam suas últimas despedidas."
Um homem que conseguiu escapar dos massacres disse que os soldados cometeram abusos horríveis por horas. "Eles foram amarrados, espancados com pedras e coronhas de rifle e torturados o dia inteiro", disse o sobrevivente. "Alguns soldados pareciam jovens, talvez 17 ou 18, mas alguns eram realmente velhos. Havia também uma mulher com eles."
Na vila próxima de Zee Bin Dwin, no final de julho, 12 corpos mutilados foram encontrados enterrados em covas rasas coletivas, incluindo um pequeno corpo, possivelmente uma criança, e o corpo de uma pessoa com deficiência. Alguns deles estavam mutilados.
Min Aung Hlaing liderou golpe que tirou do poder líderes eleitos democraticamente
O corpo de um homem que tinha por volta de 60 anos foi encontrado amarrado a uma árvore. Imagens de seu cadáver, analisadas pela BBC, mostraram claros sinais de tortura. Sua família disse à reportagem que seu filho e seu neto haviam fugido quando os militares entraram na aldeia, mas ele ficou, acreditando que sua idade o protegeria da violência.
Reação dos militares a milícias
As mortes parecem ser uma punição coletiva por ataques a militares realizados por grupos de milícias civis da região, que exigem o restabelecimento da democracia (revogada com o golpe militar).
Os combates entre os militares e os grupos locais da Força de Defesa do Povo (nome dados aos grupos de milícias civis) se intensificaram na região nos meses anteriores aos assassinatos em massa descritos nesta reportagem. Houve inclusive confrontos perto de Zee Bin Dwin.
Fica evidente, a partir das imagens e dos testemunhos coletados pela BBC, que os alvos dos ataques eram homens. É algo que se encaixa no padrão observado em Mianmar nos últimos meses: moradores do sexo masculino que sofrem punição coletiva por causa de confrontos entre as Forças de Defesa do Povo e os militares que comandam o país.
As famílias dos mortos reiteraram à BBC que os homens atacados não estavam envolvidos em ataques contra os militares. Uma mulher que perdeu seu irmão no massacre da aldeia Yin disse que implorou aos soldados, alegando que seu irmão "não conseguia nem segurar um estilingue".
Segundo ela, um soldado respondeu: "Não diga nada. Estamos cansados. Nós vamos matá-lo."
Jornalistas estrangeiros foram proibidos de fazer reportagens em Mianmar desde o golpe militar em fevereiro de 2021, e a maioria dos meios de comunicação não estatais foi fechada. Assim, as reportagens in loco se tornaram praticamente impossíveis.
A BBC apresentou as acusações reunidas nesta reportagem ao vice-ministro da Informação e porta-voz militar de Mianmar, general Zaw Min Tun. Ele não negou que os soldados realizaram as matanças em massa. "Isso pode acontecer", disse ele. "Quando eles nos tratam como inimigos, temos o direito de nos defender."
A Organização das Nações Unidas (ONU) está atualmente investigando supostas violações dos direitos humanos perpetradas por militares de Mianmar.
Um homem que conseguiu escapar dos massacres disse que os soldados cometeram abusos horríveis por horas. "Eles foram amarrados, espancados com pedras e coronhas de rifle e torturados o dia inteiro", disse o sobrevivente. "Alguns soldados pareciam jovens, talvez 17 ou 18, mas alguns eram realmente velhos. Havia também uma mulher com eles."
Na vila próxima de Zee Bin Dwin, no final de julho, 12 corpos mutilados foram encontrados enterrados em covas rasas coletivas, incluindo um pequeno corpo, possivelmente uma criança, e o corpo de uma pessoa com deficiência. Alguns deles estavam mutilados.
Min Aung Hlaing liderou golpe que tirou do poder líderes eleitos democraticamente
O corpo de um homem que tinha por volta de 60 anos foi encontrado amarrado a uma árvore. Imagens de seu cadáver, analisadas pela BBC, mostraram claros sinais de tortura. Sua família disse à reportagem que seu filho e seu neto haviam fugido quando os militares entraram na aldeia, mas ele ficou, acreditando que sua idade o protegeria da violência.
Reação dos militares a milícias
As mortes parecem ser uma punição coletiva por ataques a militares realizados por grupos de milícias civis da região, que exigem o restabelecimento da democracia (revogada com o golpe militar).
Os combates entre os militares e os grupos locais da Força de Defesa do Povo (nome dados aos grupos de milícias civis) se intensificaram na região nos meses anteriores aos assassinatos em massa descritos nesta reportagem. Houve inclusive confrontos perto de Zee Bin Dwin.
Fica evidente, a partir das imagens e dos testemunhos coletados pela BBC, que os alvos dos ataques eram homens. É algo que se encaixa no padrão observado em Mianmar nos últimos meses: moradores do sexo masculino que sofrem punição coletiva por causa de confrontos entre as Forças de Defesa do Povo e os militares que comandam o país.
As famílias dos mortos reiteraram à BBC que os homens atacados não estavam envolvidos em ataques contra os militares. Uma mulher que perdeu seu irmão no massacre da aldeia Yin disse que implorou aos soldados, alegando que seu irmão "não conseguia nem segurar um estilingue".
Segundo ela, um soldado respondeu: "Não diga nada. Estamos cansados. Nós vamos matá-lo."
Jornalistas estrangeiros foram proibidos de fazer reportagens em Mianmar desde o golpe militar em fevereiro de 2021, e a maioria dos meios de comunicação não estatais foi fechada. Assim, as reportagens in loco se tornaram praticamente impossíveis.
A BBC apresentou as acusações reunidas nesta reportagem ao vice-ministro da Informação e porta-voz militar de Mianmar, general Zaw Min Tun. Ele não negou que os soldados realizaram as matanças em massa. "Isso pode acontecer", disse ele. "Quando eles nos tratam como inimigos, temos o direito de nos defender."
A Organização das Nações Unidas (ONU) está atualmente investigando supostas violações dos direitos humanos perpetradas por militares de Mianmar.
Fonte: BBC NEWS/Brasil
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Mundo